Revisitar Esopo para reinventar a escola

Opinião de Elvira Tristão

A afirmação “Ninguém é tão grande que não possa aprender nem tão pequeno que não possa ensinar” da autoria de Esopo, fabulistada Grécia Antiga, é uma máxima perfeitamente atual.

Entenda-se nas palavras deste fabulistao elogio da humildade para aprender, sem impedimentos de idade ou de estatuto social, recomendando o autor que estejamos disponíveis para aprender, independentemente da nossa idade; e que aproveitemos os ensinamentos dos outros sem preconceitos sociais ou etários. No fundo, a máxima de Esopo valida o que aprendemos na chamada “escola da vida”. Ademais justifica igualmente o atual paradigma da Aprendizagem ao Longo da Vida motivado pelas mudanças laborais, sociaisou pelos avanços tecnológicos no contexto da chamada “transição digital”.

No universo escolar, a afirmação de Esopo faz ainda mais sentido. Pensemos, por exemplo, na necessidade de valorizar a participação ativa dos alunos, promovendo, deste modo, a qualidade das suas aprendizagens. Quando os orientamos para o estudo de um determinado tema com o objetivo de estes o apresentarem aos colegas, além de promovermos o desenvolvimento de competências de oralidade, estamos a potenciar as aprendizagens na medida em que, de acordo com Glasser, aprendemos 10% quando lemos, 20% quando escutamos, 30% quando observamos, 50% quando vemos e ouvimos, 70% quando discutimos com os outros, 80% quando fazemos, e 95% quando ensinamos aos outros.

Mudar a escola obriga-nos a todos a rever os processos de ensinar e de aprender, repensando e diversificando metodologias. Este processo é lento e penoso, entre outras razões, porque temos uma prática curricular espartilhada, prescritiva e focada na testagem de conhecimentos. Para a conciliação dos conhecimentos com as competências, precisamos todos (incluindo a autora do texto) de colaborar mais uns com os outros, em equipas multidisciplinares, para desenvolvermos outras práticas, ou projetos, que valorizem as aprendizagens dos alunos.

Em período de pandemia, a escola tem sido um pilar fundamental para a equidade e para o combate ao isolamento social. Apesar do cansaço, da desmotivação e da desvalorização social e profissional, os professores demonstraram ser capazes de mudar a escola, desenvolvendo o currículo à distância. De um dia para o outro reinventaram a escola e a sua profissão. Não todos. Não completamente. Mas fizeram-no, como muitos portugueses, em esforço, em sofrimento e a expensas próprias. As aprendizagens fizeram-se e os planos de recuperação têm sido implementados, apesar dos constrangimentos e das limitações.

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 Hoje, muitos estão esgotados e emocionalmente exaustos. Estão a precisar de férias, a que hão de ter direito depois de mais um ano exigente, das avaliações várias e da preparação do novo ano letivo. Também os alunos e respetivas famílias.

Setembro está já à espreita e a melhor forma de reinventarmos a escola e melhorarmos o nosso bem-estar (de todos) é trabalharmos colaborativamente, fazendo das escolas comunidades de aprendizagem. Assim as lideranças nos motivem para o desafio, organizando os tempos da escola, dos professores e dos alunos, como um ativo importante para a melhoria das aprendizagens. O outro ativo é o da autonomia profissional, que não se promove por decreto, mas que se incentiva, como têm demonstrado inúmeros estudos empíricos. Porque a escola é um bem comum e do superior interesse da comunidade.

*Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.

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