Opinião de João Fróis
Diz o velho adágio que o saber não ocupa lugar. E se a maioria de nós assim o entende, a verdade é que a sabedoria é hoje em dia um lugar pouco frequentado. O seu espaço vital foi ocupado por torrentes de informação de consumo rápido e que sem deixarem lastro, se substituem incessantemente numa vertigem de esvaziamento.
Cumpriram-se 48 anos sobre o nosso 25 de Abril, essa página da história que nos devolveu a liberdade perdida nos enredos obscuros do Estado Novo. E das novas gerações quantos entendem o verdadeiro significado desse dia e o que permitiu a partir daí?
Em tempos de nova guerra na velha Europa, onde se percebem os jogos do poder impostos por regimes ditatoriais e onde a liberdade, esse bem supremo e tão ameaçado, é apenas uma palavra no dicionário, é aceitável que os mais novos não conheçam o percurso civilizacional que nos trouxe até aqui? Poderemos almejar a que desejem mudar os paradigmas se não têm perceção da história e de todos os fenómenos sociais, políticos e económicos que se sucederam e ditaram os avanços e recuos das nações?
Pelo meio assistimos ao envelhecimento da classe docente e que está a gerar já hoje uma crise nos efetivos disponíveis para lecionarem e abrangerem todo o parque escolar. O sistema de ensino está obsoleto face aos novos desafios que a tecnologia trouxe e o fosso entre o que a escola tem para oferecer e o interesse que os alunos aí encontram é cada vez maior. Urge repensar a forma mas antes do mais os conteúdos. Num mundo onde a informação está à distância de um clique ou toque, o desafio é despertar as mentes e consciências para a utilidade do conhecimento. Para tal já existem modelos avançados de ensino, como o praticado na Finlândia, em que os ensinamentos são passados em experiências multidisciplinares e fora das limitações e amarras de horários e salas fechadas.
Todos nós tivemos professores que nos souberam cativar e entre esses estão aqueles que tinham paixão pelo ensino, tinham formação sólida e sabiam contar uma boa história, fosse em letras ou números, captando a atenção e curiosidade e semeando o conhecimento.
Se ambicionamos mudar o mundo temos de começar por mudar mentalidades. E para tal, mais que impor regras, temos de as questionar de forma construtiva, de modo a permitir novas visões e abordagens a um mundo em aceleração constante e que não cessa de trazer novos problemas. E também velhos, como esta guerra absurda que insiste em continuar a leste. A ignorância e o medo andam geralmente de mãos dadas. A sabedoria e o conhecimento permitem a liberdade e a promoção do bem comum. Que vença o saber.
*Artigo publicado na edição de maio do Jornal de Cá.