O sal da vida

 

“Invictamente”, por João Fróis

joao froisVivemos tempos desafiantes a níveis nunca antes imaginados e urge repensar o hoje para poder haver um amanhã.

Este é um dos paradigmas a que esta civilização chegou por culpa própria e por se preocupar exclusivamente com o seu bem-estar, a qualquer preço, sem cuidar da saúde da sua nave mãe a quem deve a vida.

Os atentados à saúde global deste planeta maravilhoso são tremendos e não podendo olhar a todos, concentro-me numa questão que hoje merece a atenção universal devido ao aquecimento global e aos perigos notórios que já sentimos, literalmente, na pele.

A inteligência humana tem permitido avanços fantásticos a esta civilização, permitindo a cada vez mais pessoas uma esperança de vida longa e uma qualidade existencial assinalável. Os avanços na medicina e farmácia, bem como a higienização crescente e a esterilização de processos, têm garantido que, ainda de forma desigual, cada vez mais de nós possam crescer saudavelmente e de modo percepcionado como garantido, por muitos e bons anos. Infelizmente esta realidade não é transversal a um mundo muito fracturado e assimétrico, exposto a guerras que não permitem a paz onde assenta a evolução.

Ler
1 De 421

Mas afinando o foco, tenho para mim que um dos grandes desafios da ciência industrial de hoje é o de criar materiais cada vez mais inócuos para o meio ambiente e que não sejam em si mesmos uma ameaça à saúde ambiental e da própria espécie humana.

Debruço-me sobre as embalagens. Somos sociedades assentes em torres gigantes de embalagens de todos os tipos, tamanhos e funções. Para tudo existe um invólucro, um condutor, um garante de entrega do produto ao seu fim. Atentemos às nossas casas e ao ecoponto amarelo. É colossal a quantidade que cada família acumula em pouco tempo e basta reflectir um pouco, para numa multiplicação simples chegar a números assustadores. Quando vemos as imagens da Índia e dos “rios” das Filipinas e Indonésia ficamos horrorizados com as montanhas de plástico em forma de embalagem que grassam nestas paragens. E que dizer da já apelidada “platisfera”, essa imensa ilha de plástico que se acumula no oceano Pacífico e que já será maior que o território francês?? No entanto não há imagens e a voragem industrial continua a debitar milhões de toneladas de plásticos diversos e a gerar torrentes avassaladoras de desperdícios e lixo que ninguém consegue parar e gerir, mesmo que os mega fornos japoneses queimem incessantemente os lixos que as suas cidades geram!!

Coloco-me a pergunta: será que a ciência não consegue ainda criar embalagens inócuas, limpas e que se auto destruam ou regenerem? Será que temos de continuar a consumir plástico e a depender do petróleo mesmo sabendo que nos envenena e mata a esperança?

É aceitável que para consumir um iogurte, que como em segundos, deite fora uma embalagem que na natureza durará centenas de anos?? E o plástico está presente em milhares de produtos que consumimos diária e massivamente, gerando quantidades absurdas de resíduos que as centrais de reciclagem não conseguem reverter na sua totalidade.

Olho então para o mar imenso, esse mesmo gerador de vida onde desagua toda a imundície que esta civilização gera e penso no sal, esse elemento fulcral à vida na Terra e que tem estado sempre presente na evolução humana, quer na preservação dos alimentos, quer na manutenção do nosso equilíbrio bioquímico essencial. A sua importância foi reconhecida desde os primórdios, dando origem à palavra “salário”, como moeda de troca e pagamento entre civilizações.

Nos dias de hoje consumimos em excesso e atenta contra a saúde, pela falta de equilíbrio no seu uso. O excesso presente nos alimentos poderia passar para as embalagens que os protegem e conduzem até nós, permitindo a sua preservação sem lesar o meio ambiente. Criar embalagens com base em sais não sólidos e hidrossolúveis seria um avanço tão importante como acabar com os motores a combustão interna, substituindo-os por energias limpas.

Imaginem uma embalagem limpa, leve e preservadora da qualidade dos produtos e que se dissolva na água do mar!! Daríamos assim expressão ao ciclo da vida, que se iniciando no imenso mar iria reabsorver novamente os elementos iniciais, sem danificar as suas propriedades essenciais. Não teríamos transformado as estruturas químicas dos elementos e não os teríamos transformado em megálitos resistentes ao tempo e doença letal da vida de todas as espécies.

Muito se fala que os oceanos são a próxima fronteira da evolução humana mas ainda se faz muito pouco face às necessidades emergentes desta sociedade voraz e destruidora de recursos. Urge criar de modo limpo, equilibrado e não lesivo. Urge usar o melhor da ciência em favor da vida na Terra e não dos interesses mesquinhos de corporações e empresas. Afinal, sem condições de vida no planeta tudo o mais deixa de importar e no essencial, quem resistir, terá de voltar ao princípio dos tempos e evoluir com sabedoria e não fazer os mesmos erros que insistimos em repetir ad nauseam.

Ainda há tempo de reverter muitos dos males feitos mas há que mudar de rumo rapidamente, sob pena de nos asfixiarmos nos desperdícios fúteis da nossa gula e luxúria colectivas. Voltemos a usar o sal como conservante e menos como alimento. Saibamos ser leves nas nossas existências e “pesados” nos bons exemplos. Haja sol, haja sal, haja vida!!


 

Isuvol
Pode gostar também