Nos nossos dias, a animação está no centro das prioridades das instituições que albergam pessoas da terceira idade, sendo um dos pilares que visam garantir uma melhor qualidade nas suas vidas. Por acreditar que a tomada de consciência da sua importância por parte de quem gere estes espaços está gradualmente a mudar, também considero urgente desmistificar o papel do animador com pessoas institucionalizadas. Por isso, quero abordar este tema que tanto me toca e espero despertar novas atitudes por quem pensa que o animador é apenas um palhaço, faz desenhos e brinca.
O que significa Animação? Já pensaram que importância tem na vida de um idoso em lar ou Centro de dia? Animação é simplesmente dar vida em coletividade, sendo um permanente estímulo físico, mental e afetivo.
E quem é o animador? Que trabalho desenvolve? De uma forma lata, o animador é um profissional que é capaz de estimular outros para determinada ação, é aquele que consegue captar atenção do outro cativando e despertando para novos interesses sem exercer qualquer obrigação, criando uma empatia, tornando-se num confidente, mediador e companheiro. Existindo vários tipos de animação, quer seja através das artes plásticas, cognitiva, motora, social e lúdica, o animador adequa-as indo ao encontro dos gostos e expectativas de cada idoso, tendo sempre em consideração os seus ritmos, interesses, acessibilidades físicas e mentais.
Parece tudo dito e fácil, mas nem sempre é! E porque? Porque temos vários desafios: sensibilizar uma equipa, desde as ajudantes e/ou auxiliares de geriatria que devem colaborar de forma a promover a autonomia dos idosos, aos seus dirigentes, de forma a criar espaços privilegiados para o animador atuar, para as rotinas de uma organização, que possam permitir que os idosos colaborarem nas suas tarefas e garantir formação para todos, sem exceção, para que se possa intervir melhor.
E ainda há mais? Claro que sim. Não gosto de show off, não aceito realizar determinadas atividades num espaço amplo para agradar terceiros e não permito que os infantilizem.
No entanto, também há bons momentos nesta profissão. Temos sempre o dom de dar a volta por cima e pensar que o amanhã é melhor que hoje. Que as dificuldades transformam-se em incentivos. Por isso, gosto quando me dizem: “O que está ela a inventar? O que vamos fazer? Porque não se fez? “Admiro-os, quando descruzam os braços, vencem os medos e esquecem as dores. Quando querem experimentar, quando mostram que ainda é possível, que há sempre uma primeira vez… Acredito nas suas potencialidades e capacidades enquanto pessoas. Defendo a sua identidade. Respeito o seu espaço, a sua privacidade e as suas crenças.
Não poderia deixar de partilhar uma mensagem especial, deixada há um ano por uma idosa de 89 anos que espelha como “o outro” nos vê. Passo a transcrever: “A nossa animadora é uma mãe, jovem, bonita e ternurenta para nós. É uma grande amiga que procura sempre animar-nos quando nos sentimos mais deprimidos seja com dores ou saudades do passado, pois ela arranja sempre algo para nos motivar e enfrentar tarefas ligeiras, seja de lavores, pinturas ou recortes… é ótima a organizar festinhas de cantares alentejanos e ribatejanos, passagem de modelos com as velhotas “jovens” da casa , que são espetáculos dignos de ver, pois a maioria participa encantada com as palmas que lhe oferecemos…”
Querem melhor definição de animador?
Para mim, realizar trabalho de animação com idosos é uma luta constante, porque temos de reinventar novas estratégias para os seduzir e banir a ideia pré-concebida que já não produzem e nada sabem fazer. Assegurar as necessidades básicas de um idoso é tão importante como a sua participação e ocupação na vida da instituição, por isso, deixe cultivar esta terapia ocupacional com dignidade no fim das suas vidas.