Só o amor da minha vida de sempre, de todos os dias da minha vida, de todos os setembros é que tem o direito e autorização para dizer que estou velho, porque só esse amor de sempre é que tem tempo para ter sempre saudades de mim. Opinião de Carlos Gouveia
Neste mês de setembro passo a ser quarentão, dizem alguns, ou cota, dizem outros. Um limite que não era sequer tangível, pois já estamos no gracioso ano de 2016: primeiro ano de realidade do filme de ficção científica “Regresso ao Futuro”, onde já devia ser possível voar de carro para o trabalho e vestir roupa inteligente, que alargava ou encolhia conforme o peso e altura (esta invenção, confesso que dava bastante jeito, só se comprava roupa uma vez na vida).
Faço quarenta anos. E começamos a ter as primeiras noções de finitude, aquelas dores que nunca tivémos e porque é que aparecem e desaparecem, e porque é que já não conseguimos fazer aquelas coisas que fazíamos com uma perna às costas, como subir uma simples escada, agora a ouvir estalos em ossos e tendões que nem sabíamos que existiam e que parece que se vão partir a qualquer momento.
Devia ter comido mais hortaliça e nabiças, como diziam e dizem os meus bisavós e avós, que viveram e vivem toda a vida.
Não duramos para sempre, como a festa de anúncio de fim de mais um verão adolescente com os primos e amigos do Algarve, a noite do “Banho 29”, o último pôr-do-sol do último dia de Agosto nas praias de Lagos antes do setembro, o meu setembro.
Chega setembro e nasço outra vez, cada vez mais velho em paciência e rabujice, em cabelos brancos, sinais pintados e pele quebradiça com rugas. Não foi ninguém que me disse, estou eu a dizer a mim mesmo por cada ano que passa. Ou refraseando: só o amor da minha vida de sempre, de todos os dias da minha vida, de todos os setembros é que tem o direito e autorização para dizer que estou velho, porque só esse amor de sempre é que tem tempo para ter sempre saudades de mim.