Socorro! Tenho um bebé
Opinião de Vera Alves, Psicoterapeuta e Terapeuta de Casal
“Não aguento mais”, “quero a minha vida de volta” ou “preciso de espaço” são expressões de desespero, comuns a muitos casais que são pais há pouco tempo. Quando acontecem, é importante falar sobre estes sentimentos que são frequentes e normais. Algumas pessoas acham que só lhes acontecem a elas, ou que só elas se sentem de determinado modo. É comum numa primeira fase sentir desespero, exaustão, tristeza, alegria, um misto de emoções.
Ser pai, seja pela primeira, segunda ou mesmo terceira vez é sempre difícil para o casal. Por ser uma nova fase com mudanças que passam por adaptar, ajustar, aceitar e tolerar. E como em todas as mudanças, é preciso tempo e paciência para se encontrar um novo equilíbrio.
Alguns casais tentam considerar antes da chegada do bebé o que vai mudar no “nós”. No entanto, é mais fácil sentir segurança quanto a decisões sobre aspetos práticos como a cor do quarto do bébé, ou a escolha do pediatra, do que antecipar de que forma o “nós” se vai “aguentar”.
Quando o casal está preparado, não só para receber o novo membro, mas também para refazer a rotina; quando os filhos são pensados, desejados; quando há preparação para a mudança de estilos de vida, para formas de estar diferentes daquelas adotadas até aí; quando tudo isto acontece, torna-se muito mais fácil ao casal manter a cumplicidade.
A incapacidade de mudar, e os ajustes necessários neste ciclo de vida levam muitos casais à ruptura. Estatisticamente há um maior número de divórcios logo após o nascimento dos filhos.
Esta fase é tão desgastante para o casal, há tão pouca disponibilidade e ambos estão tão cansados, que se esquecem de cuidar do “nós”. Por um lado, quer-se mais, exige-se mais, e por outro consegue-se dar tão pouco. Cada um necessita, exige, que o outro seja mais tolerante, quando o próprio não o consegue ser.
É quando conseguem parar para se escutarem, que se conseguem tornar mais cúmplices. E mais fácil se torna passar esta fase.