Depois de soltas as bolhas de champagne, que em cascata caem para as flutes, de terem soado as doze badaladas, no Terreiro do Paço, e no Big Ben, de se ter subido a uma cadeira e de se terem comido as doze passas, que pedem doze desejos (número grande e impossível…), eu sonhei um País em que a democracia estava firme e segura, em que a social-democracia fosse um facto, em que a ascensão social, pelos estudos, ou pelo trabalho, não estivesse tão dificultada, em que a emigração significasse mais um desejo de internacionalização de carreiras (pois como todos sabemos nesta velha Europa cansada há superavit de muitas formações e especializações), do que uma fuga em massa da miséria, em voo low cost; em que as crianças tivessem acesso a uma Escola Pública, gratuita e universal; em que a Saúde fosse um serviço universal; em que o mérito, o trabalho, o esforço e a dedicação contassem para se conseguir um trabalho, mais do que a “cunha”, a troca de favores, o clientelismo, a corrupção e o pequeno-caciquismo; em que a Justiça não fosse tão morosa; que os portugueses se fossem tornando, mais do que instruídos, cultos; e em que os seniores tivessem direito a uma vida digna e sempre, sempre, o direito a falar e à indignação.
É um sonho, e era num País assim em que gostava de viver. Um País que não tivesse medo de utilizar a palavra orgulho, que fosse frontal e responsável pelos seus actos, que tivesse fibra, que não tivesse medo de falar e de assinar por baixo, e que não sentisse vergonha de ter nascido nesta frente de mar atlântica e peninsular.
Post scriptum: Sou em primeiro lugar cartaxeiro, em segundo lugar ribatejano (embora esta província há muito já não exista), em terceiro lugar português e peninsular, e desde sempre europeu, nunca me senti africano, americano ou asiático, e recuso-me a dizer “Na Europa”, pois a Europa começa no Cabo da Roca, não na Escandinávia. E patriota, o que é diferente de ser nacionalista, pois nada tenho contra os outros povos e nações.