Sonhos realizados a cavalo

Jana Sancho Rosa, na Quinta das Freiras, onde se dedica à hipoterapia

Quando chegámos à Quinta das Freiras, Jana Sancho Rosa recebeu-nos com os dois filhos, Mateus e Leonor, com nove e seis anos, respetivamente, que se mostraram sempre bastante envolvidos no projeto da mãe, no decorrer da conversa na sala de estar com vista para o picadeiro, mas também na preparação do cavalo para a sessão de hipoterapia com Carolina, de 12 anos, que havíamos de assistir.

“Este projeto surgiu do amor pelos cavalos que sempre existiu”, diz Jana que, depois de enveredar pelo hipismo e pela competição, se iniciou na hipoterapia, em 2000, numa altura em que esta técnica terapêutica com o cavalo, que apoia nomeadamente crianças e jovens com necessidades especiais, não estava muito divulgada ainda no nosso país. Na altura, Jana foi contactada por pessoas que queriam implementar este serviço em Portugal e precisavam de alguém que percebesse de cavalos. Depois de se ver envolvida neste projeto, Jana, com formação base em economia, decidiu tirar uma pós graduação em Educação Especial, entre outras formações, de modo a aprofundar os seus conhecimentos, ao mesmo tempo que dava aulas de equitação em Lisboa.

Regressada ao Cartaxo, aproveitou o espaço de uma quinta agrícola da família, que era do seu avô (Mateus Reis Rosa, um dos grandes vitivinicultores do Cartaxo no século passado), para ali criar a Ride Your Dreams, onde tem sete cavalos e dá aulas de equitação, mas também sessões de hipoterapia, que já desenvolve há cerca de três anos, e terapia assistida com cavalos, com o apoio de um psicólogo.

A quinta, com uma larga extensão de terreno agrícola em volta, situada no campo, em Vila Chã de Ourique, a menos de um quilómetro da Quinta da Fonte Bela, sofreu algumas intervenções para servir melhor este propósito, estando nos planos da proprietária fazer uma intervenção grande no espaço com o intuito de alargar a oferta de serviços, pois atualmente, nesta quinta, Jana desenvolve mais a hipoterapia, a terapia assistida e as aulas de equitação com crianças.

Carolina na sessão de hipoterapia com o cavalo Caramelo

A hipoterapia alia os conceitos base da equitação aos fundamentos teóricos da reabilitação, cujos contributos se refletem a nível neuromotor, cognitivo, e psicossocial, sendo considerada uma intervenção dinâmica, num ambiente estimulante e descontraído, que traz benefícios ao nível da modulação do tónus, da mobilidade articular, do equilíbrio e da coordenação, verificando-se ainda resultados ao nível da aprendizagem, do desenvolvimento da atenção, concentração e orientação espacial, bem como ao nível do desenvolvimento da auto-estima e auto-confiança e da motivação para definir e atingir objetivos.

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A razão fundamental da escolha deste animal é a qualidade do andamento do cavalo a passo que produz cerca de 60 a 75 movimentos tridimensionais por minuto, equivalentes aos da marcha humana neurofisiologicamente normal. Além disso a fisionomia do seu dorso proporciona um correto posicionamento sentado. Características que tornam o cavalo um agente facilitador, capaz de alterar a resposta do sistema nervoso central, facilitando padrões de postura e movimento mais funcionais e promovendo vivências fundamentais para o desenvolvimento de competências motoras, cognitivas, comunicativas e psicossociais.

Jana recebe utentes com paralisia cerebral, problemas de obesidade, casos de amputação de membros e tem em preparação a terapia de melhoramento do pavimento pélvico, incontinências urinárias, pós-parto, através da equitação terapêutica. E tem cavalos especiais para estes casos: animais mais calmos e mais adaptados fisionomicamente a esta técnica. Jana é a responsável pela sessão, “juntamente com o fisioterapeuta para me auxiliar nos exercícios, mas sou responsável pela equipa e pelo utente, e depois está o monitor que só pensa no cavalo, isto para que o resto da equipa possa estar totalmente alheia ao cavalo, concentrada na pessoa que está em cima do cavalo”, porque, “nestes casos, não é só andar a cavalo é fazer exercícios e jogos em cima do cavalo”, normalmente cerca de uma hora. “É o que eles aguentarem!” De início, conta Jana, Carolina aguentava pouco tempo, agora já fica uma hora. Francisco, o pai desta menina com paralisia cerebral que Jana vem acompanhando, também auxilia na sessão da filha e reconhece os benefícios desta terapia, nomeadamente na relação de confiança que esta consegue estabelecer com o cavalo, e que nós pudemos testemunhar. E isso é o principal. Depois, como diz Jana Sancho Rosa, “é o que eles conseguem fazer e nós vamos sempre tentando puxar mais por eles”.

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