No Verão parecia que as horas duravam muito mais do que os sessenta minutos que lhes eram destinados. Três meses de férias em que o calor conseguia entrar pelas janelas fechadas e que convidava o corpo a molengar pelos sofás.
O dia começava quando a hora de almoço já estava a chegar. O dia anterior tinha terminado tarde porque em tempo de férias não há quem queira deitar cedo. Férias são férias e os miúdos são todos iguais.
A meio da tarde, quando o calor ainda se sente, mas já se começam a sentir as tréguas, alguém bate à porta.
– Vamos? – perguntam assim que a porta se abre.
– ‘Bora – respondem do outro lado.
Não há molenguice que entre naquele corpo nem calor que assuste. Fazem-se à estrada de bicicleta na mão e com uma garrafa de água na mochila. Seguem caminho a bater às portas do costume.
Não têm telemóveis e ninguém sabe para onde vão. Sabem só que saíram tal como é costume nestes dias de férias numa tentativa de combater a monotonia dos dias de Verão. Foram sem destino.
– Seguiram lá para cima – diria alguém se perguntassem pelas bicicletas que saíram todas juntas.
Fazem-se à estrada sem saber para onde vão e sem parar de falar. Há sempre qualquer coisa para contar.
Percorrem as estradas que já conhecem e aventuram-se por outras que não sabem bem onde vão dar. Partem rumo à aldeia vizinha e seguem para a outra que vem logo a seguir. Sem parar de pedalar.
– Mas esta estrada não tem fim?
Não há bussolas nem GPS. Nada que lhes indique o caminho além das tabuletas com os nomes das terras que lhes são familiares. Vão para onde querem. Decidem virar só porque acham que o caminho por ali é mais bonito ou mais aventureiro.
Passam nas aldeias mais pequenas que a sua e cumprimentam os mais velhos que se sentam à beira da estrada a ver quem passa. Não os conhecem.
– Não consigo subir aquilo.
Levam a bicicleta pela mão quando faltam as forças nas pernas. Param uns minutos e partilham a água, contam os trocos para ver se podem comprar mais uma no café da próxima terra. Pode ser que esteja fresca.
Fazem o caminho de volta quando o sol começa a descer e o tempo refresca. Caras vermelhas e respiração ofegante, corpo queimado do sol.
Param à porta de casa. Bicicletas deixadas caídas no passeio enquanto se sentam a recuperar do cansaço. Os seus risos ouvem-se à distância, os seus gritos chegam onde não as conseguem ver.
Despedem-se quando a mãe aparece a dar sinal que é hora de jantar. Pegam nas bicicletas e separam-se de volta às suas casas. Cabelo em desalinho e corpo a colar.
– Até amanhã!
– Eu passo pela tua casa!
Não é preciso mais nada. O dia seguinte está combinado.