Telenovela confrangedora

Opinião de Frederico Guedes

Apesar de ter já referido o assunto na minha crónica de março e de ter já redigido outra, que seria a do mês corrente, o meu bairrismo não pode deixar incólume o mais recente capítulo de um novo entrave na utilização do campo das Pratas por parte do Sport Lisboa e Cartaxo.

Desde a sua fundação, decorria o Ano de 1937, que o clube sempre utilizou naquele espaço o seu campo de jogos, permitindo que milhares de atletas praticassem a sua modalidade favorita e representassem o nome da sua Terra. Quando há 50 anos o Sr. Manuel Marques, um emigrante, resolveu adquirir aqueles terrenos, já tinha conhecimento que numa das suas parcelas, havia ali prática desportiva, pelo que tratou de realizar um contrato de arrendamento ao clube, que foi sempre cumpridor no pagamento das rendas solicitadas, ao longo dos anos.

Pós 25 de Abril, e com o nascer do poder autárquico, iniciou-se um processo em que os nossos políticos tiveram sempre conhecimento da situação, mas que nos diversos mandatos nunca nenhum conseguiu resolver. Desde logo, com o grande investimento na Quinta das Pratas, com vontade e querer, bastaria doar um terreno em permuta ao proprietário e poderia nascer ali um polo desportivo na trilogia de um campo de futebol, umas piscinas e um campo de ténis… Mas não, assobiou-se para o lado. No mandato seguinte há a doação de um terreno ao clube na zona industrial, aí estão os dirigentes em mãos à obra, dinheiro dos sócios doado, candidatura a fundos comunitários, primeira pedra inaugurada… Parou tudo, passaram quatro anos, novo mandato, novo presidente de câmara que quer construir um Estádio Municipal, faz um acordo com o clube, em que este fica como utilitário por direito próprio e desiste da sua obra (não poderia coexistir duas candidaturas para os fundos comunitários), devolvendo o terreno.

O episódio mais confrangedor vem no mandato seguinte em que o novo presidente acha por bem a alteração do PDM e propõe um acordo tripartido em que o terreno passaria finalmente para o clube, os terrenos adjacentes do senhorio seriam deveras valorizados passando de agrícolas a urbanizáveis e a câmara, até essa alteração, assumia o pagamento da renda… Inexistência da alteração do PDM, novo presidente não paga as rendas, alegando falta de dinheiro, armadilha para o clube que fica em incumprimento.

Nos dias que decorrem, o atual presidente da câmara teve a postura digna do seu cargo e conseguiu instalar uma ponte de entendimento plausível de modo a evitar que o clube fosse espoliado do seu campo de jogos. Então não é que depois de estar o acordo garantido para a assinatura de um novo contrato de arrendamento, vêm os advogados do proprietário, ávidos de euros, suspender a respetiva assinatura do mesmo, alegando falta de licenciamento do imóvel e das obras ali efetuadas para a prática desportiva?!

Este último episódio revela uma má-fé infinita, faltando ao respeito a todo um trabalho sério e persistente, ao longo de décadas, até aos dias de hoje, ao serviço da sociedade. Muito sinceramente, acredito que desta vez o nosso poder político tem uma oportunidade de mostrar frontalidade e resolução definitiva da situação, levando o caso para expropriação alegando utilidade pública, para que centenas de jovens iniciem os seus campeonatos e disfrutem da atividade desportiva, um bem saudável para o equilíbrio da nossa sociedade, marcando golos aos de lá… Pela equipa de Cá.

Isuvol
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