Tempos de feira…

Frederico Guedes | Frederico Guedes

Quando na Escola Primária o mês de outubro era sinal que as sebentas e as tabuadas ainda cheiravam a novas já em cada intervalo no pátio de recreio as conversas convergiam, ansiosamente, para o final do mês. É que novembro era sinónimo que a feira – a grande Feira dos Santos – já se tinha iniciado no seu pleno esplendor.
Que belas recordações guardo: o circo chegava uns dias antes sempre com a sua enorme logística, as farturas e o algodão doce faziam as nossas delícias e as fichas dos carros de choques e dos carrosséis eram guardadas religiosamente para serem usadas na altura que se achava mais conveniente.
Era nesse tempo que as ruas do Cartaxo transbordavam de forasteiros e de locais com as visitas dos seus familiares, ávidos nas suas compras numa panóplia de barracas assimétricas, e em que aproveitavam para experimentar a nova água-pé, acompanhada de um belo cartucho de castanhas assadas.
A “invasão” era tal, que recordo-me do clube da terra transformar o campo das Pratas em parque de estacionamento para aí realizar mais uma receita para a sua difícil gestão. Ao 1º dia de novembro, a praça de toiros engalanava-se e, desde que o S. Pedro não pregasse nenhuma partida, era sinónimo de praça cheia, pois era a corrida que encerrava mais uma temporada tauromáquica.
Lembro-me da Rua Batalhoz com o comércio aberto todos os dias em que decorria a feira, onde as tabernas do Miranda, dos Unidos ou do Major estavam repletas de apreciadores do belo néctar do Cartaxo, da mercearia do Pereirica, vendendo todo o tipo de leguminosas nas medidas de litro e 1/2 litro ou do seu vizinho Zé Correeiro em que as carroças estacionavam esperando os seus donos e respectivo jumento de serem atendidos.
Nos dias de hoje, a feira foi perdendo a sua pujança onde nem a realização de uma Expocartaxo a reabilitou. Debateu-se muito a mudança do seu local para o centro, em toda a parte envolvente da Praça 15 de Dezembro e praça de toiros, onde no passado se realizava, mas pelos vistos nada se decidiu pelo que ficaremos a aguardar pelas decisões do poder político.
Pela entrevista inserida na primeira edição do Jornal de Cá foi comentada a inversão do sentido do trânsito na Rua Batalhoz, pelo ex.mo Presidente da Câmara, o que na minha simples opinião de comerciante (e das tendas sabem os tendeiros) seria um grande balão de oxigénio para esta zona central da nossa cidade. Assim continuamos rodeados por uma cintura externa beneficiando as cinco grandes superfícies aí estrategicamente localizadas (que bela proteção ao comércio tradicional)… enfim já os antigos diziam que cada um faz a cama onde se deita e qualquer dia começamos a emigrar para a China. Eu Não…
Porque sou de cá não sou de lá nem dali é mesmo D’Aqui.

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