Quem é o homem que se candidata a presidente de Junta?
Sou um cidadão que nasceu em Valada há 69 anos e que ali permaneceu até cerca dos 11 anos. Depois ausentei-me para Lisboa, onde fiz a minha vida, estudando de dia e de noite, neste caso quando já estava empregado. Trabalhei quase sempre na indústria farmacêutica, comecei aos 16 anos nos armazéns e nas entregas e acabei como delegado de informação médica. Regressei a Valada em 2001, porque tinha saído da informação médica, mas acabei por voltar à profissão e estive, por mais seis anos, a fazer o distrito de Santarém, até que me reformei.
Sou um cidadão perfeitamente normal, que começou a trabalhar cedo e o trabalho, naquela altura, era uma coisa que hoje não é. Era uma escola e uma preparação para a vida. Depois do 25 de Abril tornei-me numa pessoa mais extrovertida. Aprendi a ser um homem de causas, porque vivi o pós 25 de Abril em Lisboa e aquilo foi uma escola extraordinária. E aí vieram as grandes convicções, eu já as tinha, mas aí aperfeiçoaram-se, vivi-as e lutei por elas. Preservo as minhas convicções, o aspeto ideológico… Caminhamos mais para o abismo e eu tenho a certeza de que as minhas convicções são estas, ou seja, não é o caminho para o abismo é o outro. E isto dá-me muita força para ter a certeza de que cada vez mais os meus ideais estão certos.
O que o motivou a ser candidato?
Primeiro que nada, um militante comunista não abraça um projeto por sua vontade. O partido onde eu milito pode indicar-nos caminhos e tarefas e acreditar que determinado militante, como é o caso, pode desempenhar bem esta tarefa. Esta situação foi-me colocada pela quarta ou quinta vez e eu, entendendo que é uma tarefa do partido e concordando eu com ela, aceitei. Porque aqui posso continuar a explanar as ideias de um comunista, se bem que numa autarquia mete-me um bocado impressão que possa haver muitas opiniões divergentes – e nalguns sítios existem. Se todos os autarcas eleitos querem o melhor para a sua freguesia e se existem estradas em mau estado, acho que não há nenhum autarca que não as queira colocar em bom estado. Se Valada tem condições – e sem querer puxar a brasa à minha sardinha, Valada é a freguesia que tem mais potencialidades do ponto de vista turístico – eu acho que não há autarca de nenhuma força política que não esteja de acordo com isto. Poderá estar em desacordo é por onde se começa ou como é que se toma esta ou outra medida…
Que presidente de Junta quer ser?
Eu acho que deviam ser todos interventivos. Na freguesia de Valada não tem havido, na minha ótica, e com o devido respeito, a intervenção que poderia e deveria ter havido. E já houve em Valada presidentes com maior intervenção que o atual. E quando digo isto, volto a frisar que não quero puxar a brasa à minha sardinha, mas Valada já foi, por duas vezes pelo menos, freguesia CDU. E o último presidente CDU que Valada teve foi uma pessoa muito determinada e sentiu que, a determinada altura, a Câmara do Cartaxo passou a hostilizar Valada, por ser uma autarquia CDU, e a freguesia começou a ser prejudicada. O que é triste é isto ter sido feito pelas pessoas do Partido Socialista, presidentes de Câmara do Cartaxo. Não estou a falar de agora, estou a falar de anos mais atrás. Isto aconteceu.
Não tem havido a intervenção necessária dos executivos – porque isto não é só do presidente, é muito do presidente, mas do seu executivo. O executivo são três pessoas e eu não posso conceber que, tendo uma Junta de freguesia um presidente, um tesoureiro e um secretário, estas pessoas não tenham um entendimento igual em termos de intervenção. Reunir não chega, é preciso ir para a rua, auscultar as pessoas, é preciso consultar e pedir apoio aos serviços da Câmara para saber mais sobre aspetos técnicos ou outros. E isto não é feito com regularidade, com persistência, com convicção.
Que ideia tem da sua freguesia?
Valada tem 603 eleitores e muitos deles vêm de fora, portanto têm muito menos habitantes que isto. O orçamento da junta dá para pagar ordenados e pouco mais, com meia dúzia de funcionários. O que é que se pode fazer, o que é que se pode sonhar…Os orçamentos têm de ser pensados não só em relação ao número de habitantes, mas também às necessidades da terra. E note-se que em Valada há muita coisa que se pode fazer sem dinheiro nenhum, é preciso haver vontade, envolver a população… Já aconteceu em Valada haver voluntariado, mas hoje é uma dificuldade enorme. Há muito pouca vontade de participação, porque as pessoas nem sequer estão entusiasmada e porque, cada vez mais, somos meia dúzia.
Qual a primeira medida a tomar assim que for eleito?
Valada tem tantas prioridades… Para além dos saneamentos e outras prioridades do dia a dia das pessoas, o que há que fazer primeiro é preparar um trabalho no sentido de virar – e passo o termo – a cabeça do executivo da Câmara Municipal do Cartaxo para Valada. É começar a conversar, imediatamente, sobre a necessidade fazer qualquer coisa por aquilo que estão constantemente a dizer. Toda a gente fala das potencialidades de Valada e ninguém faz nada! Valada continua a ser atravessada, nesta altura, por toneladas e toneladas de tomate por dentro da localidade…
Aos sábados e domingos não se vê ninguém no Cartaxo e Valada está cheia de gente… O que também quer dizer que muita gente gosta de Valada. E se isto acontece, se as pessoas se deslocam lá e não há nada em condições para lhes oferecer… Então está-se à espera de quê? E eu devolvo a pergunta, não será a primeira das primeiras prioridades? Eu acho que é. Criar condições, arrumar a casa… Valada é bonita, tem uma fachada bonita, mas tem uma casa desarrumada. Se mesmo só com a fachada as pessoas vão a Valada imagine-se com a fachada, uma casa mais arrumada e bonita, por dentro, o que não seria.
É preciso sentarmo-nos à mesa, sem limite de tempo, demore os dias que demorar. Quando for o dia de analisar Valada vamos analisar uma série de situações. Isto não pode ser analisado dia a dia, é necessária uma análise muito mais ampla, é necessário um plano de ação para uma série de situações.
E Valada não e só espoliada na falta de pensamento, também é espoliada economicamente. Aqui há uns anos, no tempo de presidente Paulo Caldas, foi atribuída uma verba grande a Valada para reparação dos diques, porque os diques estão em péssimo estado e se um dia acontece uma cheia, como aquelas que aconteciam antigamente – a tendência do ponto de vista meteorológico não é essa, mas nunca se sabe e nós não controlamos isso, a não ser prevenindo –, hoje a desgraça seria maior. Desse dinheiro, foi aplicada meia dúzia de tostões; andaram uns homens com uns baldes e umas pás de pedreiro a pôr cimento em rachas do tamanho de um palmo da mão e nos locais onde eles estão realmente danificados não aconteceu nada. E o resto da verba, que é muito dinheiro, ficou em poder da Câmara. Uma vez, numa reunião de Câmara descentralizada, um cidadão de Valada perguntou: “onde é que está esse dinheiro”? Na altura quem lhe respondeu foi o vice-presidente da Câmara, Francisco Casimiro, dizendo que “esse dinheiro está na Câmara e pertence a Valada”. A CDU já tem perguntado, várias vezes, na Assembleia Municipal por este dinheiro e já percebemos que este dinheiro já não existe. Então não há regras? Ninguém é culpado? Não acontece nada? E há gente que está hoje na Câmara Municipal do Cartaxo que estava nessa altura lá. Eu arranjo um culpado, rapidamente. O grande culpado é quem tem governado este concelho. E é com alguma tristeza que eu digo que é o Partido Socialista. Isto é verdade, não se pode fugir destes factos. Há gente do Partido Socialista que eu conheço e que é capaz e que gosta de trabalhar… mas tem que gostar mais! Tem que ir mais para a rua, ir a Valada falar com as pessoas, não é só ir lá passear e dar entrevistas com o Tejo de fundo. Isto não resolve problema nenhum, só mostra, mais uma vez, a beleza que Valada tem.
Equipa da CDU à Assembleia de Freguesia de Valada
Candidatos efetivos Rogério da Costa Mendonça, 69 anos, reformado; Amélia Maria de Brito Figueiredo Estalagem Martins, 47 anos, administrativa; Fernando José Nobre Cardoso, 74 anos, reformado; Felisberto Guilherme Campino Martins, 62 anos, desenhador técnico; Maria Manuela Pereira Estalagem Martins, 74 anos, reformada; João Miguel Messias Chaves, 28 anos, técnico de armazém; Fernanda Maria Abreu Martins Morgadinho, 49 anos, doméstica
Candidatos suplentes José Gaspar Jorge Pereira; Felisberto Estalagem Martins; Maria Emília da Graça Soares