“Todos os Dias”, opinião de Carlos Gouveia
O prometido foi devido: fomos todos à Serra da Estrela nas férias da Páscoa, chegando ao topo do mundo num dia soalheiro, com o manto branco de neve espalhado por cima das pedras de granito, sem chuva e sem nevoeiro.
A viagem não foi atribulada, com pouco trânsito, excepto nos sinais sonoros que ouvia no carro de cada vez que passava nos pórticos da A23, uma auto-estrada “SCUT”, sigla que foneticamente soa a um míssil mas que significa sem custos para o utilizador. No caso das “SCUT”, deveria chamar-se “SCUTCASAEPAGA”, querendo dizer sem custos para o utilizador quando se está em casa porque se passar de carro por baixo de um pórtico cheio de câmaras, tem de ir pagar portagem aos correios, ou ter via verde que é mais cómodo porque só se ouve um beep irritante. Adiante.
Ao chegar perto da Torre pelo lado da Covilhã, aproveitámos uma aberta para parar e respirar o ar fresco e molhado. Um frio gelado aquecido pelo sol, com gorros de orelhas postos na cabeça, cachecóis e luvas enfiadas para sentir o gelo e entrar a correr pela neve adentro para fazer guerras de bolas de neve.
Estávamos acima das nuvens, a tocar no branco gelado como se estivéssemos no céu a fazer de anjo na Terra, como o filme “O Despertar da Mente”. E vejo pela cara dos miúdos que o sonho de ver neve foi realizado, pelos sorrisos cansados e olhares inesquecíveis.
Tempo de voltar à terra e começar descer a serra, agora pelo lado de Seia. Viagem difícil e perigosa, a passar literalmente pelas nuvens sem ver um palmo à frente do nariz. Chegada ao Sabugueiro, para descansar o carro e ver os cães da serra fofinhos que estão à venda. E o cheiro irresistível a chulé, dos queijos amanteigados.