Criada em 1935, em plena Rua Batalhoz, a Ourivesaria Conceição, sempre gerida em família, acompanha a mudança dos tempos, há várias décadas de história, e reabre, em breve, com nova cara
A comemorar 80 anos de existência, a Ourivesaria Conceição encontra-se em remodelação, adaptando-se aos tempos, para dar continuidade a um negócio de família, que já vai na terceira geração. Amélia Pina, neta de António da Conceição, fundador da casa, decidiu mudar de vida e dedicar-se, ao lado dos pais, à loja que há décadas se dedica à venda de artigos de ourivesaria, prataria e relojoaria.
Situada na Rua Batalhoz, no Cartaxo, a Ourivesaria Conceição cresceu e vem-se modernizando, ao logo dos anos, seguindo a evolução dos tempos, mas mantendo sempre a tradição. Foi fundada em 1935 por António da Conceição, até então relojoeiro na loja do tio (ourivesaria Lanheiro, situada na esquina imediatamente a seguir à Casa da Fortuna), e era, na época, uma pequena casa que se dedicava à venda de ouro e prata (anéis, cordões, brincos), peças tradicionais portuguesas, pratas grossas, salvas grandes e serviços de chá. Para além destes, havia artigos de relojoaria e, também, muitos relógios para consertar.
Pouco mais de duas décadas passadas, António da Conceição, casado e com uma filha, sentiu necessidade de contratar um relojoeiro que o ajudasse na loja. Foi então que, em 1958, contratou um jovem, também ele a trabalhar com um tio, numa relojoaria em Niza, e de lá veio para o Cartaxo, onde permanece até aos dias de hoje. Amândio Pina, na altura com 19 anos, dedicou-se ao ofício, que viria a interromper, passados dois anos, para cumprir o serviço militar no Entroncamento, seguindo depois para Angola. Ao fim de 42 meses voltou, casando, poucos anos depois, com Maria Ermelinda, filha de António da Conceição.
Já com a primeira neta nascida, em 1968, em tempos de maior prosperidade, António da Conceição resolveu fazer obras, beneficiando o prédio onde se encontrava a loja e a sua residência. Para além das alterações na fachada da casa, com uma porta de entrada direta para o primeiro andar, onde residia, também o espaço comercial foi alargado, ficando como hoje o conhecemos.
Numa altura em que já havia mais desenvolvimento, e a rua (conhecida como a Rua da Carreira) passou a ser mais movimentada, também a ourivesaria passou a ser mais atractiva. Os clientes vinham do concelho do Cartaxo e de Azambuja, Vila Nova de São Pedro, Manique do intendente, Aveiras de Cima, com maior afluência nos dias de mercado, em que havia muita gente na vila, e pela Feira dos Santos. Também em agosto o movimento era grande, com a vinda dos emigrantes. A época natalícia começou a ser mais forte em vendas a partir dos anos setenta, altura em que se começou a dar uma maior relevância comercial ao Natal.
No final dos anos 70, António da Conceição morre, ainda relativamente novo. Sempre dedicado à casa comercial que fundou, ainda atendeu um fornecedor até à meia-noite na véspera de falecer. Maria Ermelinda, que já ajudava ao balcão, em solteira, voltou a estar mais presente na loja, já as filhas eram crescidas, acompanhando a mãe, Maria da Felicidade, que se manteve presente na loja durante longos anos, e o marido, que vinha desenvolvendo o trabalho numa ótica, mas que, entretanto, voltou à Ourivesaria.
Há cerca de vinte anos, houve uma nova remodelação no interior da loja, com novos móveis, mas mantendo uma linha tradicional. Tudo na perspectiva de acompanhar os tempos e as suas mudanças que se foram sentindo também ao nível da clientela, que passou a ser mais abrangente. A partir de certa altura, já mais recentemente, começaram a surgir pessoas de Lisboa, que arranjaram cá casas de fim de semana, sendo que os dias de feira e de mercado deixaram de ser tão relevantes, a nível das vendas, como eram antigamente. A oferta passou a ser maior, dentro e fora do Cartaxo, e os interesses e possibilidades da sociedade passaram a ser outros.
“O poder de compra, atualmente, não é o mesmo, e as quebras que se possam sentir no negócio não terão a ver com a abertura de outras lojas do género”, considera Amândio Pina. A insegurança que se gerou nas lojas, nas ruas e até em casa fez com que as pessoas se retraíssem na compra de artigos de valor, como o ouro, e tudo mudou. Mas a Ourivesaria Conceição é uma casa com tradição, com um atendimento personalizado, e procura manter certos artigos, que sabe serem do interesse da clientela, assim como dar espaço a novos artigos que, hoje em dia, atraem uma clientela mais jovem.
O mercado evoluiu para as pratas miúdas, entre outros metais, que se aliam a outros materiais, como o cabedal e a cortiça, tornando os artigos mais inovadores e relativamente mais acessíveis. Também os consertos de relógios deixaram de ser relevantes no negócio. A oferta de relógios é grande e, na sua maioria já nem se podem considerar artigos de relojoaria. Ainda assim, na Ourivesaria Conceição ainda há algumas marcas de referência, para clientes mais exigentes.
E como a exigência, hoje em dia, é grande nas diferentes vertentes do negócio, Amélia Pina, que é uma entusiasta do design e do marketing, tem vindo a implementar uma nova imagem e valor à loja, entusiasmada que está com a sua integração na casa de família, sempre com o cuidado de adaptar a inovação à tradição. O pai, Amândio Pina, quer viver até aos 120 anos e continua a gostar do que faz, ao lado da mulher, Ermelinda, e tem gosto que a filha se mostre empenhada em dar continuidade à Ourivesaria. O que podemos esperar é que, depois de renovadas as instalações, a antiga Ourivesaria Conceição se mantenha atual, por muitas mais décadas, na família que a viu nascer e crescer.