Depois de muitas atribulações pós-autárquicas, Vasco Casimiro, Carlos Albuquerque e Domingos Alves, colocaram as diferenças de parte e constituíram o executivo da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique. Um ano depois, garantem resolver os problemas na base da confiança e da transparência.
Tomaram posse em março de 2015, depois de muitas atribulações pós-autárquicas, em que as diferentes forças políticas não se conseguiam entender. São Vasco Casimiro, Carlos Albuquerque e Domingos Alves, que constituem o executivo da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique
Fez em março de 2016 um ano sobre a tomada de posse de um executivo tripartido em Vila Chã de Ourique. O processo foi longo, tendo começado logo no pós-autárquicas, com os vencedores das eleições – o PS – a não conseguirem reunir condições para formar o executivo, depois de terem perdido a maioria na Assembleia de Freguesia.
Assembleias que se prolongavam durante noites a fio ou que aconteciam na rua, reuniões em casa da cabeça de lista dos vencedores, tudo valeu para tentar chegar a bom porto.
No entanto, e face aos resultados eleitorais, a situação não se adivinhava fácil. O PS venceu, mas com maioria relativa, de 34,9 por cento, seguido pelo Movimento Paulo Varanda – Movimento Pelo Cartaxo (MPV-MPC), com 25,66 por cento, PSD, 21,77 por cento, e CDU, que alcançou 7,4 por cento, tendo os vencedores acabado por fazer a vontade à maioria. Ou seja, com a renúncia da presidente da Junta, Conceição Nogueira, em fevereiro de 2015, abriu-se espaço para uma solução que há muito vinha sendo defendida por todos os outros: um executivo tripartido, constituído por Vasco Casimiro (PS), Carlos Albuquerque (MPV-MPC) e Domingos Alves (PSD).
Domingos Alves, secretário do executivo, salienta que “esta configuração do tripartido sempre foi aquilo que nós pensámos que era o mais adequado para Vila Chã de Ourique”, e não poupa em elogios, dizendo que “o que é certo é que está aqui a pessoa, que pensamos, certa, que tem feito um bom papel. O trabalho tem sido muito, herdámos um fardo muito pesado, mas temos sido sempre solidários uns com os outros e as coisas têm vindo a correr razoavelmente”.
é nesse sentido que trabalhamos: resolver problemas, sempre na base da confiança, na base da transparência”, diz Vasco Casimiro
O presidente Vasco Casimiro é da mesma opinião, ou seja, “tem sido um ano bom, não temos tido problemas nenhuns. E é nesse sentido que trabalhamos: resolver problemas, sempre na base da confiança, na base da transparência”.
E, apesar de serem provenientes de listas diferentes, os partidos políticos ficam à porta, garantem. Domingos Alves diz que “conseguimos colocar as diferenças de parte, aqui nunca se ouve falar de partidos” e Vasco Casimiro assegura que “nunca pusemos partidos à frente das coisas que temos para resolver. E acho que deve continuar assim”.
Aliás, o facto de virem de partidos diferentes pode ser uma mais-valia para a terra, considera Carlos Albuquerque, tesoureiro. “Para a terra pode ser uma mais-valia. Agora, para eventuais apoios é mais complicado. Estou a falar da Câmara, dos apoios que nos são dados. Nós somos uma das maiores freguesias do concelho e somos a que recebemos menos”. E esta situação tem repercussões, tais como “montes de trabalho que não aceitamos, montes de problemas para resolver que ainda estamos a resolver. Porque é assim, nós entrámos na Junta e não tínhamos a Junta a ‘carrilar’ normalmente, porque se estivesse a andar normalmente, nós só apanhávamos o comboio e estava a andar. Não, tivemos de ir à procura do comboio, tivemos de meter o combustível, tivemos de o pôr a trabalhar”, acrescenta.
A isto, junta-se o facto de serem “inexperientes nisto, que o Carlos já está mais habituado a estas andanças, agora nós, somos totalmente inexperientes, é a primeira vez que nos vemos metidos numa situação destas”, diz Vasco Casimiro. “Se houvesse uma transição como deve ser era tudo pacífico”, considera Domingos Alves.
Aliás, “todas as obras que estão a surgir já não têm nada a ver com listas, com programas eleitorais. Já têm a ver com o ‘nosso’ programa”, assegura o presidente do executivo.
Domingos Alves assegura que nunca houve interferência partidária nas escolhas dos eleitos. “Vila Chã é que escolheu a lista, o programa (…) quem decidiu sempre tudo sobre Vila Chã foram os eleitos de Vila Chã de Ourique. Nunca tivemos pressões”
Apesar de terem concorrido em listas partidárias, Vasco Casimiro e Domingos Alves mantêm o estatuto de independentes. Curiosamente, o único que é militante de um partido político, Carlos Albuquerque, concorreu e foi eleito por uma lista de independentes. Uma experiência que considera “espetacular. Porque tive a outra experiência de concorrer pelo Partido Socialista há uns anos e esta experiência que ninguém manda em mim, quem manda em mim sou eu. Aliás, depois apareceu o Movimento Paulo Varanda, mas iria sempre como independente. A promessa estava feita e ia para a frente”, revela.
Ainda que concorrendo pelo PSD, Domingos Alves assegura que nunca houve interferência partidária nas escolhas dos eleitos. “Vila Chã é que escolheu a lista, o programa. De modo algum houve interferência, ou seja, podia haver ideias, mas quem decidiu sempre tudo sobre Vila Chã foram os eleitos de Vila Chã de Ourique. Nunca tivemos pressões. Havia diferentes formas de ver a situação dentro do próprio PSD/Cartaxo. Nós sabemos disso, mas passou-nos sempre mais ou menos ao lado”.
No entanto, não fecha as portas à militância, ainda que a relegue para ‘outras núpcias’. “Eu continuo como independente, embora mais ano, menos ano, eu acabe por me filiar, mas se calhar quando não estiver comprometido com nada, se calhar para dar o meu apoio, porque tenho uma visão da vida de centro-direita, não necessariamente com este ou outro partido”.
Igualmente independente, Vasco Casimiro integrou a lista do PS, em que garante ter acreditado, salientando que “a lista não é uma pessoa, a lista são 20 pessoas. Nunca deixei de acreditar na lista, simplesmente, quando a São desistiu (Conceição Nogueira), quando toda a gente queria desistir e levar a eleições, eu achei que não era a solução, naquele momento, para Vila Chã de Ourique. Só que os outros voltaram atrás e eu não voltei”. E quanto a pressões, “se me disserem que o abandono é uma forma de pressão, é. Ir numa lista e, quando eu olho para a lista, vejo toda a gente sair… Senti-me um bocadinho sozinho. Quer dizer, ‘porque é que estão a abandonar, será que não acreditam em mim?’”, garante ter questionado.
Nessa altura, recorda Domingos Alves, houve estratégia política. “Não há que fugir à verdade, há sempre alguma política no meio disto tudo. Começámos a bater contra uma parede, uma parede que não dizia mais nada, estou aqui, posso, quero e mando, e tivemos de nos mexer no sentido de tentar ultrapassar a situação, conseguir constituir a Assembleia contra ventos e contra marés e, a partir dali, iria ser muito complicado ela aguentar ficar sem controlo da Assembleia”.
Vasco Casimiro recorda o deteriorar das relações com Conceição Nogueira. “Logo a seguir à reunião em casa dela com o Domingos telefonou para mim, e aí é que começou a nossa fricção. Disse-me que já tinha resolvido. ‘Já estive a falar com o Domingos, o Domingos aceita ir, vou eu e o Luís e o Domingos’. Estive assim um bocado à espera, não sabia o que havia de responder, e digo ‘e eu?’. ‘E tu?’, ‘Pois, e eu? Onde é que entra aí o número dois da lista? O Luís é o número três. Você está a dizer que vai você, vai o Luís e o Domingos. E eu?’. A partir daí, pronto”.
Contrariamente ao que foi sendo veiculado, Vasco Casimiro, Carlos Albuquerque e Domingos Alves garantem que a Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique nunca viveu de duodécimos. Até porque “a Conceição Nogueira recebeu 90 mil euros no primeiro trimestre. Nós, quando agarrámos nisto, tínhamos 19 mil euros de saldo. Então, onde é que estão, grosso modo, os 70 mil? Foram gastos, com certeza, não estou a dizer que a senhora ficou com eles, estou a dizer que vieram 90 mil”, lembra Carlos Albuquerque.
Estes 90 mil euros, recebidos no primeiro trimestre de 2014, eram relativos ao pagamento dos Acordos de Execução de 2013. No entanto, as dificuldades não se ficaram por aí. Vasco Casimiro recorda “logo no primeiro dia, a história dos computadores, a ter que se pagar ordenados às pessoas, que era hábito o ordenado ser pago – ainda hoje – a 19”. O problema não era a falta de dinheiro, que “ainda tínhamos dinheiro para pagar os ordenados”, mas sim o facto de não haver forma de pagar recibos. “E a gente a querer pagar os ordenados e não havia recibos, que estavam no computador avariado, e era ilegal pagarmos. E as pessoas estavam à espera do dinheiro”, lembra o presidente do executivo, que explica que Conceição Nogueira pediu a renúncia sem sequer lançar os ordenados. Por isso, “se quiserem, aqueles meses, temos de o pôr lá”, revela Carlos Albuquerque.
Carlos Albuquerque lembra a importância de continuar “a garantir a continuidade das associações. Hoje todas as associações vivem com dificuldades, de diversa ordem, não só financeiras, mesmo falta de recursos humanos”
Para o tesoureiro da Junta, este “foi o embate mais grave que tivemos. E foi andar a olhar para as gavetas e para as prateleiras sem saber onde é que estava nada”.
Visivelmente cúmplices, o Jornal de Cá quis saber o que o futuro lhes reserva. Estarão estes três homens disponíveis para abraçar formalmente um projeto comum para a freguesia?
“Para mim não há nada em 2017”, assegura Carlos Albuquerque, ao que Domingos Alves acrescenta que “isto foi uma aventura em que eu me meti. Não me estou a ver, de modo algum”. Já Vasco Casimiro não fecha a porta a qualquer hipótese, dizendo que “pode acontecer tudo e pode não acontecer nada. Nem sequer pusemos isso em cima da mesa, nada”.
Até porque, acrescenta o presidente do executivo, “sinto-me realizado, porque fiz uma coisa que nunca tinha feito, mas em termos de realização de vida, se dá dinheiro… Não, até pelo contrário. Tenho a vida para resolver”.
Por isso, o horizonte destes três homens ainda só passa por 2017. Até lá, Domingos Alves espera que “a Câmara consiga transferir mais dinheiro para a Junta. Apelamos às pessoas, às Comissões de Festas, a quem pode, que ajudem a Junta a deixar alguma coisa, porque o que a Junta deixar feito, não é a Junta, mas são as pessoas da terra”.
“Aquilo que eu desejo é que este executivo chegue até ao fim com a força que tem tido até aqui. Tem tudo para se concretizar”, espera Vasco Casimiro.
Carlos Albuquerque lembra a importância de continuar “a garantir a continuidade das associações. Hoje todas as associações vivem com dificuldades, de diversa ordem, não só financeiras, mesmo falta de recursos humanos”.