Opinião de Pedro Mesquita Lopes
Martin Luther King era um otimista e tinha um sonho, eu, à minha incomparável escala e pequenez, sou um pessimista e tenho uma dúvida.
A dúvida é quase metafísica e, na normalidade dos tempos, seria uma mera parvoíce sem interesse. No entanto, vivemos uma época estranha em que se acumulam acontecimentos e sucedem coisas que julgávamos ultrapassadas e enterradas na história e a dúvida insiste e persiste e aborrece-me e faz-me comichão: Se tudo estiver a mudar para pior, podemos fazer alguma coisa?
Há uma música dos Elbow que não tem nada que ver isto – “há que dizê-lo com frontalidade” –, mas que que tem um verso absolutamente certeiro, “Empires crumble all the time” – Impérios desfazem-se o tempo todo – e, ainda que nos pareça que tal só acontece na história longa, isso não é verdade, os Elbow têm razão. Efetivamente – como cantavam os GNR, ainda que também nada tenha que ver com isto –, efetivamente, os impérios desfazem-se todos os dias e estão sempre a acabar, ainda que, para nosso azar, não tenham tendência para se extinguir: acaba um e está outro pronto para lhe tomar o lugar. Se se diz que a natureza abomina o vazio, acho que se pode dizer que a política geostratégica mundial abomina a ausência de impérios.
Agora estamos a assistir há terceira morte em pouco mais de cem anos de um império com origem na Rússia, em 1917 terminou o Império Czarista, em 1991 o Império Soviético e um dia destes terminará o Império Putinista, que podia terminar com um sussurro e não com uma explosão, mas o imperador, mau e desumano, um verdadeiro carniceiro como (bem) disse Biden, tem, no seu último estertor, de explodir e fazer explodir para cumprir a sua fúria assassina contra a Democracia, o seu ruidoso pavor da Liberdade e o seu ressentimento furioso contra a História.
Putin lançou-se numa guerra quase medieval, de invasão e conquista, de destruição e genocídio. Uma guerra quase a preto e branco, num cinzento pardo de morte, com o objetivo de aniquilar um país, destruí-lo e tomá-lo para o seu império, para ganhar o seu lugar na sua história,
Na Ucrânia sobrevive-se e luta-se, foge-se e morre-se, acredita-se e resiste-se e, infelizmente, para eles é simples: “Se a Rússia parar de lutar, não haverá mais guerra. Se a Ucrânia parar de lutar, não haverá mais Ucrânia!”
Quanto a nós, não os podemos esquecer, não podemos deixar de apoiar e não podemos desligar, só mantendo a guerra no espaço mediático poderemos influenciar e condicionar e levar a que talvez se façam coisas que evitem que tudo piore, na Ucrânia e em todo o mundo.
Slava Ukraini!
*Artigo publicado na edição de abril do Jornal de Cá.