Um comício de despedida, um postal de boas vindas

Memórias do Cartaxo, por Telmo Monteiro
No início do Século XX, os ideais republicanos ganhavam cada vez mais adeptos em Portugal, multiplicavam-se os grupos mais ou menos organizados e no distrito de Santarém o Partido Republicano organizou diversos comícios destinados a divulgar os seus objetivos e motivações junto dos populares.

No Cartaxo, sob a liderança do farmacêutico Francisco José Pereira, formou-se, a exemplo dos outros concelhos ribatejanos, uma comissão concelhia do Partido Republicano, tendo sido organizado um comício que teve lugar na Praça de Touros no dia 12 de maio de 1907.

Desse comício sobreviveu uma fotografia, publicada na Ilustração Portuguesa de 27 de maio de 1907, na qual podemos observar diversos pormenores interessantes. Pelas roupas e chapéus, podemos vislumbrar na arena um grupo de camponeses entre a população em geral, no palanque encontra-se um homem a discursar, mais acima, numa grade da bancada vislumbramos um pequeno grupo de homens que serão provavelmente os deputados do Partido Republicano que foram convidados a participar.

Ao fundo, à esquerda, podemos ver um pequeno grupo de mulheres, vestidas de branco, discretamente na retaguarda, prenúncio de que para elas, a república tudo mudaria para ficar como estava.

Em primeiro plano à direita, observamos um jovem campino, um guarda e no meio deles, um homem com aspeto sinistro que passaria muito bem por cowboy em qualquer filme de “western”.

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O 2º foco deste artigo relacionado com a Implantação de República Portuguesa em 5 de outubro de 1910, é um postal escrito e enviado para o Cartaxo, 5 dias depois, e que nos dá uma amostra do que uma grande parte da população portuguesa sentiu naqueles primeiros dias da revolução.

O postal foi enviado por João Bernardes Calção, um cartaxeiro a morar em Lisboa, onde seguia a carreira militar, para a sua prima Maria Augusta (Monteiro), moradora na rua dos Casais, no Cartaxo.

Começa por agradecer o cuidado que a família do Cartaxo teve para com ele nos dias da revolução, mas que “felizmente nada sofremos” “apesar de haver bastantes perigos”. Depois refere que só estão descontentes com a proclamação da república “aqueles que recebiam 3 e 4 ordenados sem que nada fizessem” e acrescenta “os outros que é o pais inteiro, estão radiantes, loucos de alegria. O enthusiasmo é tanto que nos faz chegar as lágrimas aos olhos.”

Ao ler este postal percebemos facilmente que o povo português sentiu uma enorme alegria com o fim de uma era e uma ainda maior esperança na era que então se iniciava. Algo que se voltaria a repetir 64 anos depois.

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