Uma vez mais, chegamos ao campeonato do mundo de futebol. Embora este ano as pobres escolhas da autoridade máxima do desporto rei – a FIFA – e o calor do Catar tenham adiado o mundial para a época natalícia, as trinta e duas equipas que sonham levantar a mais taça cobiçada no mundo do desporto entram em campo com a mesma ânsia de sempre.
Está a ser um mundial claramente marcado pela controvérsia. Depois da edição Rússia 2018, as atenções estão agora postas no emirado árabe. Desde 2010 que sabíamos do acolhimento deste torneio tão especial pelo Catar e, além das questões ligadas à corrupção que tem vindo a assombrar de forma cada vez mais veemente os corredores da FIFA em Zurique, matérias diplomáticas e problemas de exploração laboral também têm estado na ordem do dia.
A decisão esteve longe de ser unânime e, pela primeira vez na história dos campeonatos do mundo, a competição realiza-se no inverno – de 21 de novembro a 18 de dezembro. Organizar um mundial no Médio Oriente foi uma das bandeiras da presidência de Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA, mas pouco depois da decisão final admitiu logo ter sido um erro crasso. Erro esse cujas origens podem ser encontradas nos valores astronómicos que a organização catari desembolsou para conseguir organizar um torneio destas dimensões. Na linha da frente têm estado os oito estádios topo de gama que servirão de palco para os jogos durante a competição.
Toda a construção das infraestruturas associadas ao mundial também está envolta em polémica. Cerca 1,9 milhões de migrantes, provenientes da Índia, Nepal, Paquistão, Filipinas e Bangladesh, em condições precárias, segundos vários relatos da Amnistia Internacional, ajudaram à preparação do torneio. Muitos diplomatas falam no Catar como uma “prisão aberta” para estes trabalhadores. A polémica atingiu tal magnitude que o governo do Catar mudou as suas leis laborais de maneira a permitir melhores condições de trabalho. A mudança na legislação foi considerada um importante marco histórico e um passo gigantesco na luta pelos direitos dos trabalhadores. Contudo, o futuro destas áreas depois do mundial é incerto e teme-se um retrocesso duro.
O campeonato do mundo de futebol sempre foi a competição que mais corações açambarcou. As sensações dos fãs, a magia em torno das quatro linhas, as alegrias e as tristezas trazidas a tantas casas pelos sprints, dribles e remates dos jogadores que procuram concretizar o maior sonho de todos de qualquer futebolista, levando consigo toda uma nação. É uma sensação inexplicável. Entre seleções nacionais, a diversidade de fãs é fantástica e de quatro em quatro anos todo o planeta se ilumina para acolher o Mundial de Futebol, uma competição que atrai até o mais relutante seguidor do desporto. Todos querem ver o seu país chegar o mais longe possível.
Ainda que hoje em dia seja uma das maiores indústrias do planeta, o futebol é pura emoção no momento, o nervosismo em jogar contra uma outra grande equipa, os gritos nos cafés e junto aos grandes ecrãs temporários, as famílias e amigos reunidos na sala para apoiar a seleção…isto é mundial. Isto é futebol. Noventa minutos em que tudo o resto desaparece. Mas nunca devemos esquecer a forma como a escolha do Catar evidencia problemas gravíssimos em diferentes frentes, um país que viola a dignidade humana de forma clara e brutal.
Esperemos que este campeonato do mundo sirva de lição para a FIFA e que nos relembre a todos a verdadeira essência do futebol e do desporto e que no dia 18 de dezembro possamos ouvir A Portuguesa.