1997, Festival Sudoeste. Ouvia na Antena3, pela voz do Álvaro Costa, que vinham algumas bandas além fronteiras tocar cá em Portugal, no sudoeste alentejano, algures na Zambujeira do Mar. Não fazia ideia que sudoeste era esse… Opinião de Carlos Gouveia
1997, Festival Sudoeste. Ouvia na Antena3, pela voz do Álvaro Costa, que vinham algumas bandas além fronteiras tocar cá em Portugal, no sudoeste alentejano, algures na Zambujeira do Mar. Não fazia ideia que sudoeste era esse, pois para mim o Alentejo sempre foi de passagem até chegar ao Algarve. Mas uma coisa era certa: que eu tinha de ir ouvir Suede, dEUS (sim, com d minúsculo) e Blur, os britânicos da festa pop “Girls and Boys” and “Song 2”.
Tinha tido um estágio de festivais e ajuntamentos no ano anterior em acampamento selvagem,na Festa do Avante!. Não era selvagem por estar no meio do mato à minha sorte, mas porque estava no meio do recinto com uma canadiana ao pé de um teatro improvisado. No Avante!, somos todos iguais, todos camaradas, não havia problema. Mas no Sudoeste, era um outro nível de selvagem.
Eu e o meu primo alado de companhia destas andanças que não recusava concertos e ajuntamentos disse logo que ia nessa. Na primeira sexta-feira desse agosto de 1997, o meu pai teve a hombridade de nos levar até à porta do recinto da Herdade da Casa Branca, na Zambujeira. Não porque fazia questão, mas mais por ver que raio de sítio era este onde nos havíamos de meter durante três intermináveis dias. O compromisso era: tínhamos de estar nas bombas da Galp de São Teotónio à noite. E muito nauseabundos mas felizes para sempre, cumprimos o combinado.
Quando soube que este ano os velhinhos “Sisters of Mercy” vinham tocar à porta de casa no festival Reverence em Valada, tive um misto de nostalgia e de selvajaria, de pegar na tralha de mochila às costas e ficar três dias a acampar, a comer enlatados nobres, como dobrada com feijão e mão de vaca. Mas passou-me depressa, já não tinha paciência para essa anarquia.
Só não resisti em transmitir o legado ao meu filho mais velho, que me acompanhou resistente a ouvir os “Damned” e os “Sisters of Mercy”. Acho que nasceu um “punk” à beira Tejo.
Crónica publicada na edição de outubro do Jornal de Cá.