É fundamental que o desenvolvimento da Ciência Económica não perca de vista o Homem e a realidade social envolvente. A partir daí, a Economia, enquanto Ciência Social, não deve nunca perder de vista a complexidade do “fenómeno social” e a necessidade do envolvimento de outras ciências sociais e humanas num contexto em que deve instalar-se, acima de tudo, a ambição da interdisciplinaridade. Ao longo dos anos, tenho-me espantado ao aperceber-me do quão bem policiadas são as fronteiras entre as disciplinas e quão forte é o desdém por aqueles que visam uma competência modesta em muitas disciplinas em vez de um conhecimento profundo de uma ou outra.
A pretensão, sem concessões, da Economia como ciência útil, remete-a para um papel instrumental ao serviço do Desenvolvimento. Isto traz consigo a afirmação sustentada de que há valores que devem sobrepor-se aos “materiais”, porque o Homem só se afirma plenamente como Homem quando, para além da melhoria das suas condições materiais de vida, interiorizar o princípio fundamental de que nas necessidades básicas integram a liberdade, a justiça, a procura da equidade e a autoestima, como valores do Desenvolvimento. O desemprego, por exemplo, não deve ser encarado como um mero valor estatístico, um apuramento das vítimas não intencionais da luta contra a inflação. Os desempregados são seres humanos, com famílias, cujas vidas foram afetadas pelas políticas económicas recomendadas, ou, em certos casos de países em desenvolvimento, efetivamente impostas por certas instituições.
Este conjunto de preocupações liga-se intimamente à conclusão de que a Economia é indispensável na resolução de problemas sociais, mas deve ter a humildade de assumir o papel de “ciência útil”, aceitando ser, como outras, instrumental no processo de desenvolvimento; até porque, como já foi referido, há valores que podem sobrepor-se-lhes: a liberdade, a justiça social e a autoestima são necessidades pelo menos tão básicas quanto as que se manifestam na perspetiva estritamente económica. A justiça social é um dos valores que deve impor-se, e sem o qual não faz sentido falar de desenvolvimento.