Uma União para todos

Opinião Afonso Morango

Cada vez mais é crucial debatermos a Europa de forma clara e acessível. Alguns mais céticos afirmam que é a União Europeia que toma decisões que condicionam a vida política dos Estados-membros e, por isso, assistimos a um défice democrático. Outros defendem que a solução passa por retirar poderes à UE, algo que não faz qualquer sentido se olharmos para os feitos desta nossa comunidade imaginária.

Todos os Estados-membros têm uma palavra a dizer nos grandes salões de Bruxelas, seja através do Parlamento Europeu, seja através do Conselho de Ministros da UE. Parece-me que, se existe um défice democrático, a sua origem não estará nas instituições europeias, mas na incapacidade de se gerar um debate à escala continental focando nos problemas que nos afetam a todos.

Portanto, não me parece que seja uma boa solução diminuir as responsabilidades dos organismos governamentais europeus, mas sim assegurar que todos os cidadãos estão a par daquilo que se debate e, acima de tudo, que se revêem nas decisões tomadas. Isso é verdadeira democracia e é por isso que a Europa tem lutado há mais e seis décadas.

A adesão de Portugal à União Europeia veio confirmar o sonho de tantas gerações que conheciam muito bem o valor da liberdade e da prosperidade. Mas esta nossa União tem atravessado vários problemas e enfrenta crises cada vez mais inquietantes.

Jean-Claude Juncker disse que a União Europeia tem décadas de experiência na superação de crises, tendo emergido sempre mais forte depois disso. Para lograrmos continuar a superar estes problemas unidos enquanto uma Europa só, a ideia de que nada deve ser dado como garantido deve ficar bem impressa na memória coletiva do Velho Continente.

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Os valores que orientam a União Europeia são o que a distinguem de todas as outras regiões do globo e esses mesmos valores traduzem-se numa agenda política relativamente consensual, centrada, acima de tudo, no bem-estar dos cidadãos dos 27. A UE está muito acima da média mundial no respeito pelos direitos fundamentais do indivíduo, é a maior zona de mobilidade para estudantes no planeta, as suas infraestruturas estão entre as melhores do mundo e todos os europeus sabem o que é viver num local de relativa paz e segurança, em oposição ao perigoso mundo fora das fronteiras da UE.

A União Europeia não poderia estar mais longe de ser perfeita, é difícil de explicar aos europeus, encontra dificuldades a lidar com vários problemas externos e do coração da União em Bruxelas aos seus cidadãos há, por vezes, uma colossal distância. Todavia, é algo que devemos cuidar e conhecer bem, porque, apesar de tudo, é uma zona verdadeiramente única neste teatro internacional cada vez mais desajuizado e perigoso.

*Artigo publicado na edição de Abril do Jornal de Cá.

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