Os dirigentes de qualquer colectivo são, nas comunidades, pessoas respeitadas. Concordemos ou não com elas, para serem presidentes, directores, comandantes, chefes, homens ou mulheres, devem merecer o nosso respeito. São pessoas de referência.
O mesmo acontece com o governo de cada país e com as instituições internacionais. Têm que ter o nosso respeito porque só assim inspiram confiança. Podemos discordar de muitas decisões, ou até de todas, mas reconhecemos que ocupam os seus lugares com legitimidade e, portanto, a cidadania activa faz sentido e a democracia, no seu contraditório permanente, funciona.
Mas que se passa quando o respeito deixa o lugar à VERGONHA? A que sentimos quando ouvimos falar um governante? A vergonha que sentimos por sermos representados por pessoas mentirosas, desleais, interesseiras, incompetentes, medíocres, capazes de afirmar uma coisa e o seu contrário? Pessoas que não respeitamos, pessoas em cuja palavra não confiamos, pessoas que dão, sistematicamente, maus exemplos?
Nestes casos, podemos dizer que a vida pública se degrada, os cidadãos desconfiam, o nosso mundo fica mais triste e mais perigoso. Três exemplos:
1 – o actual ministério da educação. O ministro que tanto criticou a escola democrática, o matemático que falava de “rigor”, o comentador que ridicularizou a luta contra a exclusão e pela educação para todos (resultados positivos confirmados nacional e internacionalmente), é hoje o responsável pela destruição da escola pública e pelo caos neste ano lectivo. Joga com as palavras, desrespeita alunos, pais e professores. Dá um triste espectáculo ao país. E não se demite. Demitiu-se um secretário de estado que plagiou. Um homem da educação. É a nossa vergonha.
2 – o orçamento de estado para 2015. Confuso, manipulador, fictício, contraditório, muito pouco sério. Em cada ano mudam as regras, o cidadão nunca sabe com o que conta. Mentirosos, anunciam que não sobem os impostos, mas a carga fiscal aumenta. A análise aí está todos os dias, a entrar-nos pela casa dentro. E, como nos últimos três anos, haverá outros orçamentos para rectificar este. É a nossa humilhação.
3 – exemplo: o BES. Segundo o que lemos, há muito que havia graves problemas, conhecidos pelo Presidente da República, pelo governo, pelo banco de Portugal e pela comissão europeia. Todos sabiam. Mas chamaram as pessoas a investir no BES. Eis senão quando, o banco desfaz-se, entram dinheiros de empréstimos externos e todos nós vamos pagar os prejuízos. É o nosso desespero.
Quando não respeitamos os eleitos nem os governantes, quando temos vergonha deles, o que fica? O que aprendem hoje os jovens com os exemplos de quem nos dirige? É o grau 0 da vida política e social. Um grau muito perigoso para a nossa frágil democracia.
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