O 44º aniversário da revolução do 25 de Abril foi este ano celebrado em Vila Chã de Ourique, tendo como ponto alto a cerimónia solene na Praça Francisco Jacinto Nogueira, onde discursaram o presidente da Câmara e o presidente da Assembleia Municipal, assim como representantes das forças políticas do concelho. A abrilhantar a cerimónia, que encerrou com a simbólica largada de pombos do Grupo Columbófilo de Vila Chã de Ourique, esteve a banda da Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense (SFIP) e o Rancho Folclórico “Os Campinos” de Vila Chã de Ourique.
As celebrações começaram logo pela manhã com o içar da bandeira, na sede da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique, e o desfile dos Bombeiros Municipais do Cartaxo pelas ruas da freguesia.
Passava pouco das 10h da manhã e já muita gente se encontrava na Praça Francisco Jacinto Nogueira (Largo da Memória), entre população, representantes das forças civis e militares, autarcas e outras individualidades do concelho, para a sessão solene das cerimónias de mais um aniversário da revolução dos cravos, onde se ouviram os discursos dos representantes das forças políticas do concelho e dos presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal.
Depois de iniciada a sessão, com a banda da SFIP a entoar o hino nacional, foi o presidente da Assembleia Municipal do Cartaxo, Augusto Parreira, o primeiro a intervir, lembrando que “a Revolução de Abril restituiu aos portugueses os direitos e liberdades fundamentais”, mas “para que Abril não seja uma efeméride ritualista é nosso dever relacionarmos com o futuro de modo estratégico recusando o conformismo neste tempos ainda de algumas incertezas”. Por isso, continua, “o nosso caminho só pode ser o de retomar os nosso valores universais da paz, da liberdade, do respeito pela dignidade humana e pelo sentimento da fraternidade, no combate sem tréguas às disfunções sociais da pobreza, pela inspiração ética da política, pela perceção de que o equilíbrio ecológico é o imperativo vital para as gerações futuras e mesmo para própria sobrevivência da humanidade”. O presidente da Assembleia deixou aqui um apelo: “saibamos todos nós distinguir aquilo que são as legitimas e saudáveis clivagens democráticas do que são as responsabilidades que temos perante as regras de funcionamento das instituições da democracia. O 25 de Abril representa a capacidade de nos sabermos unir naquilo que é essencial e de divergirmos com a cordialidade e a ética que a democracia e a liberdade nos sugerem”. E ainda deixou alguma esperança: “Abril ensinou-nos que nenhuma realidade, por mais negra que seja, é eterna ou imutável”. Para terminar, Augusto Parreira frisou que “o 25 de abril será sempre o dia da utopia que se cumpre lutando por mais prosperidade, justiça social solidariedade, liberdade e democracia”.
Seguiu-se Ana Catarina Vieira, do Movimento Independente Pluralista, que lembrou os homens e mulheres que há 44 anos levaram a cabo a revolução, advertindo que “compete-nos estar gratos e tudo fazer para preservar e manter o legado que nos deixaram. Compete-nos lutar contra o querer individual, o egocentrismo e avidez económica, que nos corrói e compromete, irremediavelmente, o nosso futuro e o das gerações vindouras”. Segundo a deputada do MIP, “é preciso investir, é preciso definir promover e contribuir para a produção e promoção de políticas sustentáveis, equilibradas mas propiciadoras e estimuladoras do investimento, prosperidade e desenvolvimento do nosso país em geral e do nosso concelho em especial”, considerando que “há que devolver ao concelho do Cartaxo e às suas freguesias a dignidade o reconhecimento e a prosperidade de outrora” e desejando que “esta não seja apenas mais uma comemoração do 25 de Abril de 1974, ma que seja um novo e verdadeiro 25 de Abril – o 25 de Abril de 2018, o 25 de Abril do concelho do Cartaxo”.
Francisco Colaço, pelo Bloco de Esquerda, frisou que “com o 25 de Abril foram-nos lançados três desafios: descolonizar, democratizar e desenvolver. A descolonização e a democratização cumpriram-se, o desenvolvimento é o desafio que resta e que temos obrigação de o cumprir. Sendo a democracia um desafio de avanços e recuos civilizacionais, não queria deixar de referir nesta evocação um perfeito constitucional que está por cumprir e que é de substancial importância: a regionalização”. Relativamente ao concelho do Cartaxo, o deputado do BE lembrou “as urgentes necessidades de intervenção no município”, considerando que “Abril, no Cartaxo, significará desenvolvimento, empregos para os nossos jovens, espaços públicos de convívio sãos e lúdicos para todos”, e concluindo que “o concelho necessita de sair desta patologia depressiva e regressiva. Estamos convencidos que isso é possível e depende de todos nós assumirmos as nossas responsabilidades, pelos jovens pelos idosos, pelos desempregados, pequenos agricultores, pelos pensionistas, pelo futuro para todos se fez o 25 de Abril”.
“O 25 de abril é um dos mais importantes marcos da nossa História recente, que concretizou o sonho da liberdade”, afirmou José Barreto, dirigente do PCP Cartaxo, que lamenta que “ao longo destes últimos 44 anos, vários têm sido os atos para amputar o Estado das suas obrigações e, de forma mais ou menos velada, condicionarem os cidadãos no acesso e usufruto dos seus direitos”, apontando “o vergonhoso processo de descentralização de competências para os municípios em funções sociais que só ao Estado dizem respeito”, o que considera “um ataque aos serviços públicos, pois este processo mais não é que uma clara desresponsabilização do Governo na garantia da universalidade do acesso a direitos sociais constitucionais”. José Barreto aponta ainda o dedo à “extinção de mais de mil freguesias no país, assente numa opção política e ideológica que tinha como principal objetivo a subversão do poder local democrático e que se traduziu no empobrecimento do nosso regime democrático”. A finalizar, José Barreto lança críticas à governação do Partido Socialista no Cartaxo, reconhecendo que “não podemos assumir que o 25 de Abril possa ser sentido em plenitude no nosso concelho perante a degradação da qualidade de vida nos últimos anos, fruto da ausência de estratégias municipais assertivas e abrangentes que impulsionem o investimento, o emprego, o turismo e a preservação do meio ambiente”.
Jorge Gaspar, pelo PSD, foi bem mais atrás na História de Portugal, para lembrar outras lutas determinantes para a existência de portugueses, como “a Batalha de Ourique, aqui em Vila Chã de Ourique, assume um papel determinante e deve ser por todos nós lembrada e celebrada com orgulho”. Relativamente à efeméride neste dia celebrada, Jorge Gaspar referiu que “ninguém é dono do 25 de Abril. A liberdade e a democracia, os valores fundadores de Abril, encerram em si a extrema subtileza não de permitirem pensamentos diferentes nem de tolerarem opiniões diversas, mas sim de as promoverem e incentivarem. Em democracia, não há uns, os tolerantes donos da autoridade moral auto-atribuída, e os outros, os tolerados, destituídos da autoridade moral pertençamente já ocupada pelos outros. Em democracia, uns são os outros exatamente pela mesma razão pela qual os outros são os uns. Em democracia não há tolerantes e tolerados. Em democracia há iguais”. Daí que, para o autarca do PSD, “respeitar Abril exige que só da assumida, mas saudável, divergência, bem como apenas do frontal, mas legitimo, confronto democrático pode nascer a raiz da condição do desenvolvimento. Em Abril, o confronto é pressuposto do desenvolvimento económico e social. Em Abril, a divergência é pressuposto da maturidade democrática. Em Abril só não há espaço para aqueles que com isso se incomodam”.
“Sonho talvez seja a palavra chave que pode surgir como utopia, mas que permitiu que hoje pudéssemos aqui estar em aglomerado a discutir os nossos pensamentos, sem qualquer medo de represálias”. Carolina Simões do PS começou a sua intervenção lembrando que “é este desejo de discutir que necessita de ser incutido na sociedade”, nomeadamente “pelo facto de metade da população não exercer aquilo que existe de mais valioso na nossa vida cívica”. Para a jovem socialista, “é tempo de agir, tempo de fazer ver a cada um dos nossos pares a importância daquilo que é feito no exercício da representação. Existe a necessidade de valorizar aquilo que a revolução de Abril nos presenteou – a democracia, a liberdade”. E, “numa análise final”, continua, “não interessa verificarmos qual é o sistema político, porque sistemas políticos perfeitos não existem e nós não necessitamos de sistemas políticos perfeitos, mas sim de perfeita participação. Necessitamos que todos nós participemos, que todos nós contribuamos, para que existam cada vez mais 25 de Abril”.
O presidente da Câmara, Pedro Ribeiro, foi o último interveniente e, tal como os restantes oradores, não quis deixar de agradecer a Vila Chã de Ourique pela forma como acolheu as cerimónias solenes do 44º aniversário do 25 de Abril, adiantando que esta foi a primeira das freguesias do concelho a receber este evento que, a partir deste ano, será descentralizado. Neste dia em que se celebra a liberdade, Pedro Ribeiro quis destacar “as cinco vozes democráticas que se juntaram aqui para falar da revolução dos cravos, para transmitir aos cartaxeiros de todas as nossas freguesias a mensagem política que o momento que atravessamos exige de cada um de nós”, reforçando que essa mensagem, “para mim, foi muito clara: para lá de tudo o que nos possa separar enquanto cidadãos livres e militantes de causas e de ideais existe um compromisso com a democracia e com a liberdade que nos une”. O presidente reconhece que “44 anos depois, temos a consciência de que este sonho de Abril vive momentos de algum desencanto” e, por isso, pede que se honre o 25 de Abril, porque foi um “exemplo de semear futuro e valores de esperança e essa esperança tem de existir sempre em cada um de nós, porque é dessa esperança coletiva que se afirma a memória dos nossos antepassados e que queremos deixar às gerações futuras”.
Depois da sessão solene, foi descerrada a placa toponímica da Rua Professor Augusto Antunes dos Reis Lopes, em Vila Chã de Ourique. O homenageado, nascido em 1930 e falecido em 1996, natural de Vale de Espinho, Sabugal, veio lecionar para Vila Chã de Ourique, terra que adotou e onde também fez parte da direção da Casa do Povo e do Estrela Futebol Clube Ouriquense.