Mas quem é esse Nuno Markl? Para quê tanto alarido?

"Mas, afinal, porquê tamanha comoção? O que tem Nuno Markl de tão especial para que um país inteiro pare, respire fundo e sinta, ao mesmo tempo, um aperto coletivo no peito?" A opinião de Ricardo Magalhães

Esta quinta-feira fomos deitar-nos com um daqueles abanões que a vida guarda para nos lembrar da sua fragilidade. Notícias inesperadas, que empurram de lado a rotina e nos colocam frente a frente com a realidade mais crua: tudo o que damos por certo é, afinal, breve, delicado, quase transparente. Nuno Markl tinha acabado de ser hospitalizado de urgência no Hospital de São Francisco Xavier, vítima de um AVC. E, com isso, reacendeu-se em muitos a memória amarga de quem já perdeu alguém de um momento para o outro.

O que aconteceu depois foi raro. Num espaço digital tantas vezes marcado por ruído, divisão e indiferença, nas redes sociais nasceu algo que parecia esquecido: uma onda de solidariedade espontânea, genuína, comovida. Não se viram discussões, nem polarizações, nem batalhas de opinião. Apenas a vontade unânime de que tudo não passasse de um susto – o desejo urgente de voltar a ouvir e ver Nuno Markl como sempre o conhecemos: a semear alegria, leveza, sensibilidade e humanidade nos rádios e televisões deste país.

Mas, afinal, porquê tamanha comoção? O que tem Nuno Markl de tão especial para que um país inteiro pare, respire fundo e sinta, ao mesmo tempo, um aperto coletivo no peito? Sobretudo numa era em que cada um parece mais distante do outro, numa época saturada de imagens de guerra, violência e tragédias que se infiltram diariamente em nossas casas. Porque é que, no caso do Nuno, a emoção caiu sobre todos de forma tão imediata e tão íntima?

Talvez porque o Nuno se tornou, sem nunca o reclamar, num farol de esperança num tempo que tanto precisa dela. Não porque sejamos hoje piores do que antes – mas porque vivemos mais separados, mais protegidos atrás das nossas próprias muralhas, mais desconfiados uns dos outros. E, quanto mais distantes ficamos, mais falta nos fazem vozes que recordem, mesmo nas pequenas coisas, que a empatia ainda existe.

E o Nuno faz isso como poucos. Com cada brincadeira assumidamente tola, com cada celebração do absurdo, com cada ternura desajeitada que oferece ao mundo, ele recorda-nos que a alegria também é uma forma de serviço público. Não se leva demasiado a sério. Ou, melhor dizendo, sabe exatamente quando deixar o ego na porta para se colocar ao serviço de algo maior: a capacidade de fazer os outros sorrir, pensar, recordar e sentir-se acompanhados.

Talvez por ser essa luz colorida nos dias acinzentados. Talvez por mostrar, sem esforço, que a esperança pode morar nas pequenas coisas, nos gestos simples, nas histórias improváveis que ele tão bem sabe contar. Talvez por tudo isto – e mais o que nem conseguimos nomear – Nuno Markl tornou-se alguém especialmente próximo, mesmo para quem nunca o encontrou ao vivo. E é por isso que um país inteiro torce por ele.

Ler
1 De 433

Força, Nuno. Agora é a tua vez de morder com força esta rasteira da vida. Estamos contigo.

Isuvol
Pode gostar também