Omnis vincit
"Grande vitória do PSD e de João Heitor, com números nunca vistos, quer na cidade quer nas freguesias onde Vila Chã de Ourique se destaca pela viragem marcante". Por João Fróis
Todos vencem. Esta é a conclusão a que chegamos ao ouvir as reações aos resultados das eleições autárquicas de 12 de outubro último. Sendo certo que quase ninguém ousa admitir a derrota, a gestão política do escrutínio eleitoral leva a exercícios complexos e que muitas vezes revelam a verdadeira face dos candidatos.
Num resumo possível e a nível nacional observemos então.
O PSD sai claramente vencedor e Montenegro ganha uma almofada de conforto para a aprovação do orçamento e garantir alguma estabilidade governativa para os próximos meses. Para tal as vitórias de Moedas em Lisboa e de Pedro Duarte no Porto são determinantes. Mas não só pois as vitórias em Sintra, Cascais e Gaia, garantem o pleno nos cinco concelhos mais populosos, assumindo a liderança urbana e marcando a cisão com o velho chavão da base provinciana e que Viseu marca ironicamente ao derrubar o antigo “cavaquistão”, fortaleza laranja durante décadas e que agora muda de mãos e cor política para o PS. A obtenção do maior número de câmaras permite a liderança do poder local, dando conforto territorial ao executivo e maior confiança a Montenegro na sua estratégia nacional. De realçar o retorno pela porta grande de Luís Filipe Menezes a Vila Nova de Gaia, doze anos depois, garantindo que as duas margens se vistam em tons laranja. Uma palavra para a vitória histórica na cidade berço, onde resido. O PSD consegue assim a hegemonia no quadrilátero minhoto, Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos.
O PS tinha nestas eleições uma montanha dura de escalar. Após a hecatombe nas legislativas era imperioso não perder a face nas autarquias. E na verdade conseguiu segurar a sua forte implantação com a conquista de algumas capitais de distrito importantes para lá de Viseu, como Bragança, Faro e Coimbra. É certo que perdeu nos “big five” populacionais, mas atenuou a queda e manteve um contingente expressivo particularmente no centro e sul do país, onde tinha conhecido um esvaziamento para o Chega nas legislativas. José Luís Carneiro consegue algum conforto para levar a cabo esta travessia na oposição, tendo a missão de recentrar o partido face aos novos desafios que são transversais a todos sem exceção. Não ganhou, mas também não perdeu tanto como muitos previam ou até desejavam. Está vivo e capaz de se reerguer.
A CDU estava igualmente a fazer nova prova de vida e resistência. Voltou a perder câmaras, mas aguentou alguns dos seus bastiões e almejou conquistar novos e que atenuaram a queda. A sua velha hegemonia no Alentejo é hoje apenas memória, mas a componente autárquica continua a ser o braço armado do partido e as doze câmaras são agora o número da resiliência comunista. O partido continua em perda e pela primeira vez reconheceu a derrota. Eis a honrosa exceção ao discurso vitorioso.
O CDS tinha uma prova ainda mais dura. Partido da construção democrática pós 25 de Abril, mas longe do fulgor dos tempos de Paulo Portas ao comando, vive agora com o fantasma de perda de presença em São Bento e da consequente luta pela sobrevivência política, para lá do abraço “de urso” do seu incontornável aliado laranja. Manteve as seis autarquias onde concorreu como cabeça de lista e participou em várias alianças com o PSD e também a Iniciativa Liberal. A manutenção aqui sabe a uma pequena grande vitória, até por garantir a quarta posição no número de autarquias e frente ao novel Chega.
O Chega era claramente o elefante na sala ao nível autárquico. Após o enorme sucesso nas legislativas estas eleições eram o novo desafio a superar. E na verdade a desilusão tornou-se por demais evidente nas hostes do partido, mesmo que disfarçada nos sorrisos das primeiras conquistas e na emblemática vitória em Albufeira, que ainda assim não atenuou a derrota de Pedro Pinto em Faro. O algarve, região onde o Chega tinha sido um furacão vitorioso nas legislativas, mostrou as duas faces que o partido enfrenta. O debutar nestas andanças e o caminho das pedras que se antevê ter de percorrer. Ganhou as três primeiras câmaras, mas perdeu algum do fôlego com que vinha do início do ano.
A IL, após a saída de Rui Rocha e da assunção da simpática Mariana, tinha também uma prova dura de enfrentar. Marcar presença e principalmente conseguir sair da sombra do seu “pai” ideológico e com quem se aliou nomeadamente na cidade invicta, almejando mandatos que lhe dão expressão na sua terra natal. O liberalismo estará sempre ligado ao empreendedorismo nortenho e portuense. Foram apenas umas pequenas e quase impercetíveis vitórias nos mandatos alcançados, mas que mais não são do que uma lufada de inspiração.
O Livre, sem bases para grandes voos, entrou em alianças e conheceu o sabor da derrota em Lisboa, mas almejou sorrir em Coimbra onde Ana Abrunhosa deu oxigénio à esquerda. Sendo um partido de cariz urbano, tem o desafio do crescimento e do alargamento da sua base territorial.
O Bloco de Esquerda é hoje uma antítese de si mesmo. Dos tempos originais com Miguel Portas e Francisco Louçã e da sua sedutora proposta de uma nova esquerda urbana, pouco resta. Já não existe um bloco e o desmoronamento é evidente. O Livre aglutinou boa parte do seu eleitorado e Mariana Mortágua bem tentou agarrar-se a causas internacionais, mas a sua viagem na flotilha fica na história como uma fuga para a frente, procurando o protagonismo que por cá já se perdeu. O seu rosto de derrota estava bem visível no palanque atrás de Alexandra Leitão, a maior derrotada da noite.
Por último os independentes, a marcarem a forte identidade das candidaturas personalizadas e vincadamente fora da esfera partidária. E aqui Isaltino continua a ser um caso sério de popularidade junto do eleitorado mais letrado do país. A obra feita é a sua marca impressiva em Oeiras.
E guardo para o fim o meu Cartaxo.
Grande vitória do PSD e de João Heitor, com números nunca vistos, quer na cidade quer nas freguesias onde Vila Chã de Ourique se destaca pela viragem marcante. O eleitorado sentiu a entrega e empenho de todo o elenco executivo, que está de parabéns, e percebe-se a adesão popular ao projeto e a identificação com a mensagem positiva que emana das decisões, discurso e presença de todos os que abraçaram a nobre missão de representar o Cartaxo. Parabéns a todos e votos do maior sucesso no projeto de engrandecer o concelho e as suas nobres gentes. O Cartaxo merece sonhar e voltar a ser atrativo, dinâmico e empreendedor como noutros tempos e realidade. Para o bem de todos os cartaxeiros sem exceção. Bem hajam todos e viva o Cartaxo!