Por Paula Almeida e Silva
Em vésperas de eleições Autárquicas, gostaria de dar o meu contributo à reflexão.
Partidarite é votarmos “às cegas” e incondicionalmente sempre no mesmo partido político sem sabermos o que nos estão a propor e sem termos noção do que foi feito, ou desfeito, nestes quase 50 anos de democracia.
A partidarite é votar em quem sempre votámos, sem termos consciência do que foi feito a favor da “causa pública” que beneficia toda a população e o próprio concelho. As ideias pré-concebidas na partidarite, “os pobres são de esquerda, os ricos da direita”, são as traves-mestras da ignorância política, que tanto jeito faz nas eleições aos partidaristas.
Tudo isto me faz pensar se no dia das eleições, a população vota para o bem da nossa terra, para o bem da população, ou prefere votar como se tratasse de um clube de futebol, ajudando alguém a conseguir um trampolim político para chegar ao poder nacional.
Democracia, ao contrário da partidarite, é, em liberdade, debaterem-se ideias diferentes a favor da causa pública para melhorar a qualidade de vida do nosso concelho e da nossa população. O voto democrático é a possibilidade de escolhermos quem trabalha e luta na conquista da boa qualidade de vida da nossa terra.
Para quem é novo ou não conhece a história do nosso concelho, partilho a minha vivência na pluralidade.
Em fevereiro de 1968, quando existia uma enorme clivagem social, fome e alcoolismo, um conjunto de pessoas juntaram-se, independentemente das convicções políticas, religiosas ou estratos sociais, para lutarem pela igualdade de oportunidades de toda a população do concelho do Cartaxo. Realizaram uma reunião comunitária, na Casa do Povo do Cartaxo, na qual foram enunciados os sete principais objetivos a atingir pelo Movimento:
- Educação Pré-Primária;
- Criação do ensino oficial – Escola Pública;
- Assistência Materno-Infantil;
- Assistência à saúde;
- Assistência à família;
- Assistência â velhice;
- Educação através de ATL – Atividades de Tempos Livres.
Como filha de um dos membros deste grupo de “Homens Bons” assisti a muitas negociações com variadíssimas pessoas com responsabilidades nacionais, tanto no antes como no após 25 de abril de 1974, tais como: Prof. Marcelo Caetano, Dr. Azeredo Perdigão (Fundação Calouste Gulbenkian), Capitão Salgueiro Maia, General Ramalho Eanes, Dr. António Arnaut, Prof. Bagão Felix, Prof. Veiga Simão, Prof. Cavaco Silva, entre outros.
Todos os membros deste grupo de “Homens Bons”, se movimentavam em vários meios, pois cada um tinha a sua profissão e os seus amigos, tornando-se até “pedintes municipais”, mas tudo isto a favor do desenvolvimento e da criação de estruturas no concelho do Cartaxo. Lutaram pela igualdade de oportunidades, começando logo no apoio à infância.
Na minha mais de meia-idade, lembro-me muito bem do antes, do 25 de abril de 1974, e no depois.
Tive uma infância feliz, frequentei o JIC – Jardim de Infância do Cartaxo, sem ter qualquer distinção, pois nesta instituição todos éramos tratados como crianças iguais. Frequentei o AAC – Ateneu Artístico Cartaxense, onde aprendi ginástica rítmica, Ping-Pong e fui federada na equipa feminina de Basquetebol. Ainda frequentei a Escola de Música da Sociedade Filarmónica do Cartaxo, onde tocava saxofone soprano e posteriormente integrei a Banda Filarmónica.
Foi no Cartaxo que fiz amigos para a toda a vida, e é devido à minha educação pluralista que não coloco rótulos ou etiquetas a ninguém. Tenho muitos amigos com diferentes ideologias políticas, religiosas, socioculturais e de orientação sexual.
Frequentei sempre Escolas Públicas, onde me licenciei em duas áreas de especialidade, utilizo o SNS – Serviço Nacional de Saúde e trabalho na área da Saúde.
Considero-me uma mulher do povo, mas politicamente à direita, com “igualdade de oportunidades, menos estado, melhor estado” e acredito num estado social democrático.
Gosto muito do Cartaxo, foi onde nasci, cresci e constituí família, mas este concelho precisa de uma mudança rápida para todos termos melhor qualidade de vida, pois é aqui que quero ter netos.
O Partido Socialista está no exercício do poder da Câmara Municipal do Cartaxo há 45 anos. Isto promoveu a instalação do aparelho partidário do PS, que parece uma “reminiscência do absolutismo”. Isto não é um fenómeno normal, pois a democracia implica alternância política e modos de governação diferentes.
Face a isto, vote no dia 26 de setembro, pois votar é um dever cívico e o seu voto faz a diferença em democracia.