Por Raquel Marques Rodrigues
Nos tempos dos nossos avós quanto valia um relacionamento? Porque recordam com saudade esses tempos de namoro à janela? Quais as provas de que namorar antigamente é bem melhor que nos dias de hoje? Numa manhã cinzenta de inverno, embalados na nostalgia do amor foi o tema de conversa com um grupo de idosos.
O dia dos namorados ou dia de S. Valentim celebra-se a 14 de fevereiro. Um dia para muitos que se destaca por ser um dia romântico em que os casais manifestam o amor que sentem. Mas para quem não sabe, este também é o dia temático nas residências seniores, conhecido pelo dia dos afetos. Abordar o tema do namoro do antigamente vem sempre à baila e recolher histórias dos avós são memórias que registo com prazer.
A conversa dá início e de imediato, soltam-se umas risotas e um brilho no olhar de cada participante. Afinal, quem é que não tem histórias de uma grande paixão? Quem é que não passou do risco? Recordam o namoro à janela “com a minha mãe sempre a me guardar, parecia um polícia”, refere a sra. E., de 87 anos: “Uma vez ouvimos um barulho que nos assustamos. Foi a minha mãe que adormeceu e caiu da cadeira”, acrescenta. “E eu?”, diz o sr. J. de 88 anos, “Quando namorava à janela cheguei a ficar com o braço dormente…” Repentinamente alguém diz: “Devia estar a esticar o cortinado…” Os ânimos estão a ficar exaltados, tento manter o controle da sessão.
Já o Sr. S. de 76 anos, afirma com um grande sorriso nos lábios: “Quando o namoro da janela passava para a cadeira já era sinónimo de casamento, aí o assunto era coisa séria. Ah pois era…eu desejava estar com ela, que uma vez pedi um copo de água. Tudo só para estar com ela na cozinha…” Digo: “Mau Maria…” e diz o sr. S. : “Desculpe sra. dra., eu só queria matar a sede” e a conversa prossegue animada.
Inevitavelmente, pergunto quando deram o 1º beijo. A sra. E., 87 anos, diz: “O meu Chico disse-me para mim: “vem ali alguém” e eu deitei a cabeça de fora da janela e traz deu-me um beijo. Fiquei com tanta vergonha que não conseguia olhar para ele. Previ que ia levar uma grande tareia. Vá lá fizeram -se de parvos… também já o tinham feito.”
E hoje, como é que os idosos veem o namoro dos jovens? Depois de décadas de convivência com a sua cara metade, pergunto quais os conselhos que recomendam para o amor perdurar para a vida toda ou, pelo menos, enquanto dure o que se deve ter em consideração. Apontaram sete provas que namorar antigamente é melhor que nos dias de hoje e pode ser a base de uma relação sólida e duradoura.
Para eles havia muito respeito: “Hoje é algo corriqueiro. Hoje com uma amanhã com outra”, diz o sr J., de 88 anos. Aumentava o desejo pela amada: “Até para roubar um beijo tinha-se que procurar posição”, acrescenta sr J. Havia diálogo: “Falávamos no futuro” e havia compromisso: “Pensava-se que era para a vida toda. Não era para passar o tempo”, afirma o sr. A., de 93 anos. Apreciavam-se qualidades como: “Ser trabalhador, honesto e humilde”, segundo a sra E., de 74 anos. Havia amor verdadeiro: “O amor não suporta traição, injustiça e falsidade”, M. de 87 anos. E segundo o sr. A., de 75 anos, o namoro precoce aumentava a natalidade do país. “Casavam mais cedo e fabricavam mais filhos. Bem sei que agora há mais informação do que antes, mas pelo menos fizemos algo bem feito.”
Depois das últimas dicas para o amor resistir no tempo, só posso concluir que hoje no namoro há falta de compromisso, passividade e acomodação, por isso quem economiza amor, morre pobre certamente!