Opinião de João Fróis
O fim da apelidada Geringonça dá-se com estrondo com o chumbo do orçamento pela Assembleia da República.
Este fenómeno político, que recebeu este termo pelo então líder do CDS Paulo Portas, originou que o partido mais votado em 2015 fosse suplantado por um acordo do 2º com os demais partidos da esquerda, uma novidade na política lusa, tradicionalmente centrada na alternância entre os partidos do arco do poder, o PS e o PSD.
Este arranjo parlamentar, onde o Bloco de Esquerda (BE) e o partido comunista (PCP) garantiram o apoio suficiente para a formação de governo pelo PS, durou uma legislatura onde as políticas se centraram na devolução dos rendimentos perdidos na era da Troika, com atenção particular às exigências sociais mais à esquerda e á pacificação com os sindicatos.
Quando em 2019 o PS vence as eleições com maioria relativa, o apoio de BE e PCP perdeu fulgor e passou a ser apenas tácito, abrindo a porta a uma vaga de contestação de fundo ao autoritarismo que o 1º ministro ia revelando na governação. Pelo meio veio uma pandemia que mudou o mundo e obrigou a um aumento brutal da despesa para apoio à saúde, a primeira linha da resposta social a esta tormenta.
Mas se já se percebia que tal como antes, com o PS no poder existe sempre um aumento da despesa sem correspondência no investimento no setor privado, gerador de riqueza, a pandemia pôs a nu as fragilidades de uma economia depauperada e sem massa crítica para responder a tanta exigência. O preço foi pago uma vez mais pelos já de si assoberbados, trabalhadores por conta de outrem e pelas empresas, sujeitos a um aumento de impostos nunca assumido pelo governo. O dinheiro não cai do céu e invariavelmente neste país a solução recai em subir os impostos diretos e indiretos, onde os combustíveis fósseis são uma das faces bem visíveis e que a atual crise energética mundial expõe sem filtros.
A questão que se põe agora é perceber se esta queda que abre eleições antecipadas, não é mais uma manobra de António Costa, forçando o desapego com os que o ajudaram a formar governo, tentando ganhar sozinho o que muito provavelmente não iria almejar no fim da legislatura. E preocupante é ver que as preocupações eleitorais se sobrepõem, uma vez mais, às imensas necessidades de uma economia em apuros e que tenta sobreviver a mais uma crise internacional. Nem a propalada bazuca da UE resolverá a questão estrutural da falta de investimento no crescimento económico. Sem este não há resposta social e muito menos futuro para um povo entregue aos desvarios dos jogos de poder. É tempo de mudar o paradigma. Veremos o que dirá a voxpopuli nas eleições.
*Artigo publicado na edição de novembro do Jornal de Cá.