Opinião de Melanie Ferreira*
No dia 13 de outubro assinala-se o Dia Mundial da Trombose, data escolhida pela Sociedade Internacional de Trombose e Hemostase para sensibilizar os profissionais de saúde e população para uma crescente problemática – o tromboembolismo venoso. Esta data marca o nascimento de Rudolf Virchow, médico alemão, primeiro a descrever o conceito de “trombose”.
O tromboembolismo venoso caracteriza-se pela formação de coágulos nas veias, mais frequentemente nas veias das pernas (trombose venosa profunda), que podem libertar-se e migrar para o pulmão (tromboembolismo pulmonar). O tromboembolismo venoso é umas das principais causas de morte e incapacidade a nível mundial, responsável pela morte de 1 em cada 4 pessoas. Esta doença ocorre em pessoas de todas as idades.
Mais recentemente, a pandemia causada pelo vírus SARS-COV2, colocou este diagnóstico no centro das atenções, devido ao risco trombótico associado à infeção causada por este vírus, reforçando a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde e população para o tromboembolismo venoso, nomeadamente em relação aos fatores de risco, identificação e prevenção.
Embora existam várias causas para o tromboembolismo venoso, a principal – o tromboembolismo venoso associado à hospitalização – é potencialmente prevenível. Estratégias para a identificação dos doentes em risco de desenvolvimento de tromboembolismo venoso durante e após o internamento ou intervenção cirúrgica, pretendem através de dados clínicos, identificar o risco trombótico e hemorrágico do doente. Quando indicado, são tomadas medidas preventivas com o recurso a medicamentos (anticoagulantes) ou medidas mecânicas (como meias de contenção elásticas) para a prevenção do tromboembolismo venoso. Adicionalmente, em Portugal, os hospitais dispõem de Comissões de Prevenção do Tromboembolismo Venoso, com o intuito de promover e supervisionar a implementação das medidas de prevenção mencionadas. Para além da hospitalização, existem outros fatores de risco de desenvolvimento de tromboembolismo venoso, como sejam neoplasia, traumatismo, imobilização prolongada, obesidade, terapêutica hormonal, gravidez, entre outros.
Os sinais e sintomas mais frequentes do tromboembolismo venoso são: perna inchada, vermelha, com dor e calor (na eventualidade de trombose venosa profunda), e falta de ar, dor no peito, tosse e palpitações (nos casos de tromboembolismo pulmonar). O diagnóstico deverá ser atempado a fim de proporcionar o tratamento adequado, que na maioria das vezes consiste em fármacos anticoagulantes, que inibem a formação de coágulos no sangue. A duração do tratamento é variável de pessoa para pessoa, e deverá ser estabelecida pelo médico, devendo haver revisão frequente do risco/beneficio da terapêutica e estratégia estabelecida em conjunto com o doente.
Se não for atempadamente identificado o tromboembolismo venoso pode ser fatal. Se não for adequadamente tratado, as complicações, como a síndrome pós-trombótica (após trombose venosa profunda) e hipertensão pulmonar tromboembólica crónica (após tromboembolismo pulmonar) podem ser incapacitantes.
Este ano o Dia Mundial da Trombose pretende alertar consciências e “abrir os olhos” da população para esta problemática – Olhos abertos para o tromboembolismo venoso / Eyes open to Trombosis.
*Médica Internista no Hospital Garcia de Orta / Núcleo de Estudos da Doença Vascular Pulmonar da SPMI