Pontével, vila antiga e rica em património

Há muitos anos dedicada à valorização histórica e patrimonial de Pontével, Zelinda Pêgo volta a partilhar o seu conhecimento com os nossos leitores. Aqui, num breve apontamento sobre a antiguidade da vila e também em vídeo

Há 120 anos, em junho de 1901, eram notícia os importantes achados em Pontével, por ocasião da transladação das ossadas do antigo cemitério que existiu em volta da Igreja Matriz, até 1883, para o então novo cemitério. Foram encontrados, entre outros achados, “dinheiros datados dos reinados de D. Sancho II, D. Dinis, D. Afonso III, meio real de D. João I, ceitis e reais pretos de D. Duarte e D. Afonso V, reais de D. João III e D. Sebastião e uma moeda espanhola de cobre de Filipe III”, conta a historiadora Zelinda Pêgo, lançando o mote para mais uma conversa sobre a história de Pontével (Ponteval até ao reinado de D. Afonso IV) e a sua antiguidade, cujo primeiro foral foi concedido por D. Sancho I, o Povoador, em dezembro de 1194.

Explica-nos Zelinda Pêgo que no núcleo central que se desenvolve a partir da Igreja Matriz, Pontével apresenta ainda características de uma “vila” medieval. “Observando o mapa urbano de Pontével, verifica-se uma total ausência de plano urbanístico: as ruas não são paralelas, nem perpendiculares umas às outras, não há qualquer traçado geométrico. Ruas estreitas e tortuosas, cujo pavimento era ainda há poucos anos calcetado, algumas das quais foram alcatroadas nos finais da década de 50 do século passado.

Núcleo Museológico, quadros Mestre da Romeira

Outros achados, vestígios e certos elementos que compõem a Igreja de Nª Srª da Purificação, Igreja Matriz, indicam que a sua existência remonta aos princípios da nacionalidade, restaurada do séc. XVII, por António Boto Pimentel, comendador da Comenda de Pontével, cujo túmulo se encontra na Capela-Mor – há seis túmulos na igreja. Na Igreja Matriz, encontra-se o Núcleo Museológico, onde estão expostos quadros do séc. XVI e várias imagens e objectos litúrgicos, assim como fragmentos de Estelas Funerárias, certamente recolhidas do espaço envolvente da Igreja, onde se situava o cemitério desde 1530.

Zelinda Pêgo lembra que “após a conquista de Santarém aos mouros, em 1147, D. Afonso Henriques intentou a conquista de Lisboa, tendo como ajuda a ordem religiosa e militar de Malta, a quem doou a Igreja de S. João do Alporão, de Santarém, antiga mesquita Árabe, como cabeça de Comenda, anexando-lhe a igreja de ‘Stª Maria do Ponteval’ e suas anexas, Ereira e Lapa, tornando-se uma das mais importantes comendas de Malta, com o nome de Comenda de Pontével, por ser aqui que os comendadores tinham a sua residência”.

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A Igreja Matriz, embora bastante modificada pelas várias reconstruções sofridas ao longo dos séculos, possui ainda alguns elementos que documentam a sua antiguidade, refere a historiadora. “As igrejas românicas edificavam-se em pontos altos, de onde dominassem toda a povoação e exibiam grandes torres. Eram as igrejas do tipo fortaleza, pois, na falta de um castelo e em tempo de guerras tão frequentes na época da Reconquista, funcionava também como reduto de defesa. A torre foi, durante a Idade Média, um símbolo de segurança”.

Para além da Igreja Matriz, há outros monumentos, marcas e vestígios pré-históricos, “reminiscências de influência mourisca e árabe, assim como as características arquitetónicas de alguns edifícios que traduzem a evolução socioeconómica de Pontével, através dos séculos”, refere a historiadora, acrescentando que ao longo destes tempos foi sempre “uma terra essencialmente agrícola, até meados do século passado, produtora de vinho e seus derivados, cereais e azeite com as respetivas adegas, lagares de azeite, caldeiras de aguardente, e vários moinhos de água, de vento, de ferro”.

Tal como muitas das nossas vilas e cidades também Pontével terá tido origem num castro, “pequeno povoado do período neolítico que é um período de pré-história entre a idade da pedra e a idade do bronze, cerca de dois a três mil anos antes de Cristo, rodeado de muralhas e edificado geralmente no cimo de elevações de média altitude, próximo de cursos de água”, explica a historiadora, comparando estes elementos com a antiga vila de Pontével, situada na encosta virada ao poente de um monte, que se levanta junto à margem esquerda do rio de Pontével e na confluência com a ribeira da Fonte, afluente da vala grande de Azambuja, a 10,5 quilómetros da margem direita do rio Tejo, em Porto de Muge, e a cinco quilómetros a sudoeste de vila do Cartaxo. “No vértice do cabeço, onde está a igreja Matriz, existiam ainda, em meados do século passado, as ruínas de uma antiga fortaleza medieval”, diz, presumindo que, “dada a sua situação, natureza e valor militar da posição e os numerosos achados de materiais de construção romana, é de presumir que na sua origem estivesse um castro”.

“Por Pontével passava a via militar romana, que vindo de Lisboa por Alenquer, prosseguia para Santarém estando as atuais pontes do rio de Pontével e da ribeira da Fonte levantadas sobre as fundações das pontes romanas”, conta Zelinda Pêgo, baseando-se em documentos e registos antigos, bem como em escritos de outros historiadores. “Não me causa grande estranheza a existência de um castro e de um castelo, pois a configuração morfológica do terreno, um planalto, e a proximidade do vale rico em água, são elementos primordiais para a fixação e desenvolvimento de uma sociedade, quer pré-histórica quer medieval”.

Da via militar romana ainda há vestígios, acima da Fonte da Concha, caminho este seguido pelos caminheiros quando iam para Santiago de Compostela, facilitando-lhes a vida a existência de uma Albergaria em Pontével, a Albergaria de S. Miguel e Almas, onde podiam descansar e pernoitar, e que, mais uma vez, comprova a importância estratégica de Pontével na antiguidade. A Fonte da Concha, tal como hoje a conhecemos, foi construída em 1934, “relembrando uma antiga”, e tem a vieira, símbolo dos caminheiros, como decoração.

A seguir à Fonte da Concha, no sentido, sul/ norte, entrava-se em Pontével, passando pela ‘Ponte Velha da Ribeira’, e voltando à esquerda chegava-se à zona do Rio da Fonte, onde existia uma ponte romana, a ‘Ponte sobre a Ribeira da Fonte’, que chegou até aos finais do séc. XIX. Em 1911, há precisamente 110 anos, a Câmara Municipal do Cartaxo mandou construir a ponte atual.

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