O Cartaxo Empresarial (I)

Opinião de José Caria Luís

Naquela época, na transição dos anos 50 para os 60, por muito mal que se diga das condições de vida das populações, o Cartaxo era uma terra rica. Havia de tudo. O comércio proliferava, a indústria também. Vocês, gente mais nova, fazem lá ideia da dimensão que o Cartaxo atingiu neste período!… A rua Batalhoz, a praça 15 de dezembro e suas transversais estavam pejadas de lojas de fanqueiro, sapatarias, móveis, louças, ourivesarias, drogarias, ferragens, latoarias, farmácias, mercearias, tabernas e barbearias. Era um Mundo. Havia apenas um Banco, mas, pelo que se sabia, havia cash.

Depois, em ruas mais periféricas, havia canteiros, serrações, segeiros e, até, albardeiros e ferradores, vejam bem. Mas o Cartaxo também tinha duas olarias e mais os bancos de torneiro-mecânico do Zé Broa, do Chico Patrício e do António Miguel; isto além dos subsetores da Asal e do Cruz & Jarego, que serão referenciados mais adiante, numa próxima crónica. Uma oficina de torneiro de madeiras também fazia parte do património cartaxense.

Casas de bicicletas, com venda e, ou, reparações, lembro-me do Portela, do Adelino Calarrão, do Gato Bravo e do José Maria Nicolau, estas no Cartaxo. Mas também as havia em Vale da Pinta, em Vila Chã de Ourique e em Pontével. O Alfredo Lúcio, representante, no Cartaxo, das italianas Gilera e Lambretta, também era agente da Gazcidla.

Os táxis eram uma outra boa fonte de rendimento local. Os permanentes tiveram sempre clientela. Lembro-me dos saudosos: Ernesto Balrreira, Meia-Unha, Afonso Pataco, Porto-Artur, Joaquim Lobo e o Seabra. Até o Lúcio, o do Café, fazia os seus biscates, nas raras vezes em que era solicitado. É que o povaréu tinha medo de andar com ele, tal era a velocidade que imprimia ao seu bólide em curvas e contracurvas, naqueles trajetos de maus caminhos entre as aldeias e o Cartaxo. O asfalto já se anunciava, estava quase a romper, mas, por enquanto, apenas meia dúzia de ruas no centro da vila tinham esse privilégio.

Transportes públicos que, na época, faziam escala no Cartaxo, eram: Vinagre, Ribatejana, J. Clara & Filhos, Mira d’Aire, Capristanos e Viação Cernache.

Ainda dentro da área dos transportes, o que hoje seria visto como um processo arcaico de os fazer, na época isso era tido como uma coisa normal. Com os itinerários Cartaxo-Santana-Cartaxo e Cartaxo-Setil-Cartaxo, havia uma galera, puxada por dois cavalos, conduzidos desde a boleia pelo operador Hermínio que, quase sempre, tinha a companhia de um dos membros do casal de proprietários. Era o transporte privativo de mercadorias entre aquelas estações da CP e o Cartaxo. Uma vez em depósito no armazém, que se situava na rua que, agora, se chama de Combatentes do Ultramar, ou eram levantadas no local, ou recebidas ao domicílio, com porte acrescido.

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Havia que contar ainda com os transportes feitos pelos camiões dos unipessoais José Valada, Renato Caria (Tracar), João Chibico, José Matos e Chico da Macaquinha. Cada qual na sua dimensão e estatuto.

Nas aldeias, o transporte de produtos agrícolas era mais à base de carroças, puxadas por gado muar.

 

Artigo publicado na edição de março de 2017 do Jornal de Cá.

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