Covid-19: Eu estava errado. Não estejas também!

Opinião de Ricardo Magalhães

O mês de maio vai ser marcado em Portugal pelo início do processo de desconfinamento. Depois de semanas de quarentena voluntária, na maioria dos casos rigorosa, e de notícias do seu efeito positivo, elogiado além-fronteiras, na mitigação da propagação da pandemia, chega o momento que eu ousaria chamar de dia D daquela que muitos gostam de chamar “guerra contra o vírus”.

Finalmente, a atividade social será paulatinamente retomada e as pessoas voltarão à rua, mantendo-se, no entanto, todas as recomendações de higiene pessoal e distanciamento pessoal. O combate ao vírus está longe de estar terminado, até porque realisticamente esse estado apenas será atingido com a descoberta de uma vacina. Por isso, existem vários fatores que poderão levar a que todo este processo de retoma gradual da atividade ponha em causa os bons resultados até agora alcançados e, consecutivamente, a capacidade de resposta que o SNS tem tido.

Um desses fatores é precisamente a sensação que algumas pessoas irão ter de que isto já está tudo a passar, o que as poderá levar a baixar a guarda e a exporem-se a si e aos outros, ao deixarem de cumprir as recomendações das autoridades de saúde. Outros, saturados de estarem enclausurados há semanas, podem tender a colocar-se em situações desnecessárias de risco. A todos convém recordar que o recolhimento é ainda recomendado e que será sempre a medida mais eficaz de atuação e prevenção. Faz-me aliás lembrar quando o meu professor de Biologia na Escola Secundária nos dizia que o único método contracetivo 100% eficaz é a abstinência sexual. Mas é natural que seja economicamente insustentável ficar em casa até ao fim da pandemia e que a partir de agora, com o regresso das pessoas à rua, o risco de contágio dispare. E é aqui que o uso de máscara pode verdadeiramente salvar vidas.

Durante algum tempo relativizei (eu e a própria DGS) a necessidade do uso de máscara. Não por não crer na sua eficácia, mas por a grande maioria das pessoas não a utilizar corretamente. Mexer na dianteira da máscara com as mãos ou retirá-la e voltar a colocá-la (sem a desinfetar apropriadamente) são ações que comprometem profundamente a proteção que a máscara nos pode oferecer. No entanto, em boa hora fui alertado de que, mesmo quando feita de forma incorreta, a utilização de máscara é primordial para evitar que quem a utiliza transmita o vírus a outras pessoas. Isto é especialmente importante dado o alargado período de incubação do Covid-19 (durante o qual todos os infetados são portadores assintomáticos e, portanto, ignorantes da sua condição). Na verdade, a utilização de máscara é mesmo apontada como um dos principais fatores de sucesso em países com Taiwan, Hong Kong e a Coreia do Sul, todos eles com muitos menos casos confirmados que Portugal. Portanto, aquilo que vos peço é que não sejam como eu. Terminado o confinamento, respeitem a importância de usar máscara. Protejam-se a vocês e protejam os outros que vos rodeiam.

*Artigo publicado na edição de maio do Jornal de Cá.

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