Pringles e Felicidade, por Ana Benavente
Vou abordar uma questão que não é “politicamente correcta”. Tem a ver com os meios de comunicação social, as notícias que transmitem e o modo como o fazem.
Sabemos que os media – sobretudo a televisão mas também os jornais – “fabricam a realidade”. Ouve-se dizer com frequência: “se não sai nas notícias, não existiu”, querendo com isso significar que não terá impacto público, para além de quem vive directamente uma dada situação.
Em democracia, os meios de comunicação social deveriam ter alguma isenção – e é por isso que existem os provedores, para atender as “queixas” dos cidadãos, bem como a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Deveriam ter isenção, mas não têm. E a liberdade vale para todos. Liberdade com responsabilidade, digo eu, mas não o entendem assim nem as tv’s nem muitos jornais.
Vem isto a propósito da Manifestação pela Escola Pública que, no sábado, dia 18 de Junho, juntou em Lisboa dezenas de milhares de pessoas e em que participei: professores, pais, funcionários, alunos, cidadãs e cidadãos e alguns políticos.
Houve cinco intervenções iniciais, no palanque: um sindicalista, um jovem aluno, um pai, a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, a presidente da Associação Portuguesa dos Deficientes Motores, eu própria (académica e ex-membro de governo) e o secretário-geral da CGTP.
Primeiro, apenas vimos, no canal público de televisão, os políticos a dizerem as frases do costume. Dos intervenientes, nada.
E como lamento que não tenham sido divulgadas as palavras do jovem aluno que nos disse, por exemplo, que “na escola dele pode não haver piscinas nem ténis, mas houve trabalho sobre a violência no namoro e a igualdade de género”. Nem as palavras da presidente da APDM que agradeceu à escola de Aljustrel que a apoiou no seu percurso, e nos disse que 85 por cento das crianças e dos jovens com “necessidades educativas especiais” estão nas escolas públicas.
Nos jornais, breves notícias começavam por referir que, “depois da manifestação dos colégios, etc., etc. tinha havido uma outra manifestação, desta vez pela escola pública” e nem mais uma palavra, declaração ou entrevista.
Foi um acontecimento que passou “entre os pingos da chuva” num dia de sol.
Segundo, era dia de jogo e o futebol ocupou o tempo nobre. Todo, todinho.
Terceiro, no domingo seguinte, dia 19, os colégios saíram à rua no Porto e aí, televisões e jornais divulgaram amplamente o protesto.
Como cidadã, digo: assim não vale. As tv’s, rádios e jornais conhecem o poder (designado como “quarto poder”) que têm junto da opinião pública e da sociedade portuguesa. Manipulam-na e influenciam-na de acordo com que interesses? Dos donos dos meios de comunicação? Provavelmente. Já percebemos: apoiam os colégios privados pagos pelo Estado.
Escrevo sobre um evento concreto, mas muitos outros haverá que têm a mesma sorte. Está mal e aqui fica o meu protesto.