Opinião de João Pedro Oliveira
O humanismo teve o seu ímpeto na época renascentista (entre os séculos XIV a XVI). A esta corrente seguiu-se no século XVIII o iluminismo que sedimentou a razão como pedra basilar da tomada de decisão. Daqui lançaram-me sementes para valores base das democracias contemporâneas: liberdade, progresso, tolerância e fraternidade.
Ao longo da história, variadíssimas vezes estes princípios foram colocados em questão por extremismos (tanto à esquerda como à direita do tabuleiro político). Também na esmagadora maioria das vezes os resultados a curto/médio prazo foram o retrocesso civilizacional, a injustiça, a fome, a miséria e a guerra.
Em períodos de maior incerteza a demagogia, a generalização e o ódio alimentam-se como um cancro do descontentamento e da revolta daqueles que, pelas mais variadas razões, são menos afortunados ou, pura e simplesmente, sofreram um retrocesso na sua qualidade de vida. É nestes momentos que soluções milagrosas apimentadas com dotes de populismo passam a tentadoras. Mesmo que se acompanhem de argumentos duvidosos e crenças bárbaras desproporcionadas de ciência, lógica ou razão.
Olhando para trás, desconhece-se até à data qualquer sistema perfeito. O Estado falha e continuará a falhar seja na garantia da justiça, da saúde ou da educação. Mais que rasgar e voltar à casa de partida importar identificar os erros, procurando colmatá-los de forma iterativa. Este é o caminho mais seguro para o crescimento de uma democracia sólida e de uma sociedade mais justa e madura. A tolerância é fundamental.
Todos sabemos que que a corrupção corrói a confiança na justiça e na política. Mas sabemos também que o sensacionalismo exacerba sentimentos e visões que não corroboram a realidade. Será hoje o país mais injusto do que era há 40 anos atrás? Mais pobre, mais inseguro, menos livre? Há quem tente fazer da árvore a floresta. É preciso parar e perceber onde estamos e de onde viemos para não darmos passos atrás.
Portugal é uma das democracias mais recentes da Europa Ocidental com todos os defeitos que conhecemos. No entanto e pese embora estarmos ao nível da riqueza distante dos parceiros europeus, de acordo com Economist Intelligence Unit, assumimo-nos como o 3º país mais seguro do mundo e o 1º da UE. De acordo com o Freedom in the World somos também o 15º país mais livre do mundo (8º da União Europeia). De acordo com a Organização Mundial de Saúde temos o 12º melhor sistema do mundo (5º da EU). Isso faz de Portugal um país perfeito? Longe disso. Mas deixo o repto como estaríamos há quatro décadas atrás? E há um século?
Sabemos hoje também que desde 1997 não havia tantos candidatos ao ensino superior. Pese embora existam ainda hoje deficiências no acesso às oportunidades, o elevador social funciona.
Melhoremos o que existe e não deitemos tudo a perder com ilusionistas que trilham a ignorância para seu próprio benefício, borrifando-se para o que tanto custou a conquistar.
*Artigo publicado na edição de outubro do Jornal de Cá.