Crónica de José Caria Luís
É que não há emenda!…
Mês após mês, temos vindo a lamentar a grave situação pandémica em que nos encontramos. Ainda há poucos meses, quando se dizia à boca cheia que Portugal encabeçava a lista dos bem-comportados, não descansaram enquanto não arranjaram maneira de fazer descambar essa posição de vanguarda para a cauda da lista. Na hora em que até os irresponsáveis dos pândegos e os trauliteiros, ainda que tardiamente, começaram a sentir o apertar do cerco por via das mortandades da vizinhança e familiares, eis que se nos apresenta um fulano, em tempos nomeado para presidir à A.R., verbalizando uma verborreia popularucha que mais se coadunaria com um dos discursos do seu inimigo figadal, que se assina por Ventura, apelando à bagunça sevilhana, com fútbol, paella, flamenco y sus castañuelas, con tacones y todo el salero. Mas ele, Ferro, para dar o (mau) exemplo, ia! Ia, mas já não vai. Não iria em turbilhão, assim como uma espécie de trouxe-mouxe, mas sim resguardado q. b., não fosse aparecer por lá algum André Ventura, disfarçado de andaluz, a pedir-lhe uma borla, nem que fosse por debaixo da aba do casaco. É que o primeiro ia à conta do orçamento, e o outro, se não lhe fosse satisfeita a sua vontade, certamente que iria votar contra esse mesmo orçamento. Ou há moralidade ou comem todos! Todos, exceto o Zé que, esse, paga. Paga e bufa, mas de nada lhe serve senão para desabafar.
Mas, afinal, segundo as TVs, o Ferro já não levanta ferro.
Verdade seja que uma noite assevilhanada para o Zé Povinho, que não é Ventura nem Ferro, não ficaria muito em conta, mas se for “à moi”, o caso mudaria de figura. Por isso, há que aproveitar enquanto dura. Aquele discurso, por demais enferrujado, fez-me lembrar uma diretiva salazarista em 1961: “Para Angola, rapidamente e em força!” Só que este nosso contemporâneo se queda por Sevilha. Mais perto e melhor caminho, a não ser que nuestros hermanos de lá, ou até o SEF de cá, lhes barrassem a passagem.
Mas, soube agora mesmo pelas TVs, que o Eduardo Ferro, depois de ter apanhado tanta bordoada devido à sua infeliz intervenção, acabou por arrepender-se e roer a corda, dando o dito por arrependimento.
A vida está cara e enriquecer é difícil, dizem eles. Eles, quem? Todos os que, com esforço titânico, conseguiram sacar grandes fortunas ao erário público e embarcaram nas maiores falcatruas e corrupções de que há memória. Eles queixam-se e eu acredito: cozinhar todas aquelas manigâncias, deve dar cá um destes trabalhos, que Deus nos livre. Mais vale ser pobrezinho e honrado toda a vida, tal como rezavam os catecismos do meu tempo de catequese, do que optar pela tentação de receber uma generosa oferta de uns dois ou três robalos a troco de nada. Eu não aceitaria tal, mas se fossem uns carapaus alimados, à moda algarvia, até ia. Não é para rir! E que dizer daqueles que tanto se esforçaram para conseguir uns prédios e pavilhões para doar a familiares, alguns isentos de impostos? Pelo que aprendi nas aulas da catequese, essa gente, por mais que bata com a mão no peito, não tem entrada no reino dos céus. Virtude, sacrifício, pobreza, darão entrada imediata, mas honras, prazer e dinheiro, nem pó.
*Artigo publicado na edição de julho do Jornal de Cá.