O dia que mudou o mundo
"No passado dia 5 de julho, fui eleito presidente do PS Cartaxo. É, portanto, também sobre a força da minha juventude que é depositado um legado de história de um município. Um legado de conquistas, transformações e também algumas desilusões. Mas acima de tudo, um legado de homens e mulheres de diferentes gerações, de cartaxeiros com convicções e saber, que lideraram os destinos de uma vila e das suas aldeias e as colocaram no mapa do seu país". Por Ricardo Magalhães
12 de setembro de 1962. Texas, EUA.
Uma tarde de calor tórrido e asfixiante incendiava o ar, carregado de expectativa. A multidão reunida no estádio da Universidade Rice estava inquieta, cada pessoa transbordando uma mistura de esperança, excitação e apreensão.
Fazia poucos meses que havia sido eleito um novo e jovem presidente. Formado na melhor universidade do país, destacava-se pela sua inteligência, eloquência e visão. Um nome que havia de ficar para os livros da história, mas que ali enfrentava um dos seus mais duros e importante desafios.
“Encontramo-nos numa hora de mudança e desafio, numa década de esperança e de medo, numa era do conhecimento, mas também da ignorância. Quanto mais aumenta o nosso conhecimento, mais a nossa ignorância transparece.” – descrevia ele com genialidade, numa síntese que condiz formidavelmente com os dias de hoje.
John F Kennedy estava há apenas 82 dias no poder quando a União Soviética anunciara que vencera mais uma etapa da corrida ao espaço e Yuri Gagarin se tornou no primeiro ser humano a orbitar a Terra. Pairava por isso um pesar de derrota sobre o outrora vitorioso país, que ao longo do século XX se afirmara como um farol de progresso, libertação e consagração da humanidade. E proliferava o desconforto… a insatisfação… o desânimo… a falta de forças para ir mais além. Porquê fazê-lo? E… como fazê-lo?
“Nenhum homem poderá entender completamente o quão longe e o quão depressa aqui chegámos. Mas condensemos os 50 000 anos de história registada da Humanidade num espaço de tempo de apenas meio século. Enunciada nestes termos, sabemos muito pouco sobre os primeiros 40 anos. Exceto que no final destes, os homens mais avançados tinham aprendido a utilizar a pele de animais para se cobrir. Então, há cerca de 10 anos atrás, sob este padrão, emergimos das nossas cavernas para construir outros tipos de abrigo. Há apenas 5 anos, aprendemos a escrever e a utilizar um carrinho com rodas. O Cristianismo começou há menos de 2 anos. A Imprensa chegou este ano. E então, há menos de 2 meses, durante todo este período de 50 anos de história da Humanidade, o motor a vapor proporcionou uma nova fonte de energia. Newton explorou o sentido da gravidade. No último mês, luzes elétricas, e telefones, e automóveis, e aviões ficaram disponíveis. Só na semana passada, desenvolvemos a penicilina, e a televisão, e a energia nuclear. Este é um ritmo alucinante. E com um ritmo destes é inevitável que se criem novos males, à medida que se dissipam os anteriores.”
“Então, não é surpreendente que alguns preferissem que ficássemos onde estamos um pouco mais. Para descansarmos, para esperarmos. Mas se esta cápsula de história do nosso progresso nos ensina alguma coisa é que a Humanidade na sua busca pelo conhecimento e pelo progresso é determinada e não pode ser demovida.”
“Se eu fosse simplesmente dizer aos meus caros cidadãos que nós devemos enviar para a lua, a 400 mil quilómetros de distância, (…) um foguetão gigante, com mais de 100 metros de altura, (…) feito de novas ligas metálicas, algumas delas que ainda não foram sequer inventadas, capaz de suportar calor e tensões muitas vezes maiores do que alguma vez foram experienciadas, encaixadas com um precisão superior à do relógio mais refinado, carregando todo o equipamento necessário para a propulsão, orientação, controlo, comunicações, comida e sobrevivência, numa missão nunca antes tentada, para um corpo celeste desconhecido; e depois trazê-la de volta à Terra em segurança, reentrando na atmosfera a velocidades superiores a 40 mil quilómetros por hora, provocando um calor equivalente a metade da temperatura do Sol (quase tão quente como está aqui hoje), e fazer tudo isto, fazer tudo isto e fazê-lo bem, e fazê-lo primeiro, antes que esta década termine: então, temos que ser corajosos.”
“Nós escolhemos ir à Lua. Nós escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis. Porque esse objetivo vai servir para organizar e medir o melhor das nossas energias e habilidades. Porque esse é um desafio que estamos dispostos a aceitar. Um desafio que não estamos dispostos a adiar.”
Foi então que se ouviu o som de um rádio: “Um pequeno passo para um homem, mas um salto gigante para a Humanidade”. Estávamos a 20 de julho de 1969. John F Kennedy foi assassinado 6 anos antes, mas a sua profecia cumpriu-se (há 55 anos).
E é inspirados por esta data histórica, como tantas outras. Como aquelas em nos lançámos aos mares; ou em que numa madrugada de abril emergimos do silêncio, opressão e da servidão. É com esta fome de ser e da esperança, de uma fé e confiança inabaláveis na força humana, que nos lançamos a mais este desafio.
No passado dia 5 de julho, fui eleito presidente do PS Cartaxo. É, portanto, também sobre a força da minha juventude que é depositado um legado de história de um município. Um legado de conquistas, transformações e também algumas desilusões. Mas acima de tudo, um legado de homens e mulheres de diferentes gerações, de cartaxeiros com convicções e saber, que lideraram os destinos de uma vila e das suas aldeias e as colocaram no mapa do seu país. No mapa do território eletrificado e com acesso a água canalizada. No mapa da educação profissional e secundária para acesso ao ensino superior. No mapa dos cuidados de saúde qualificados e descentralizados. No mapa do acesso à cultura em proximidade e à prática das modalidades desportivas. E, entre tantos outros, no mapa dos nós de acesso à principal autoestrada do país.
É este o legado do Cartaxo e daqueles que com a gente desenharam este caminho. Um legado com o qual poderíamos ficar confortáveis, com a confiança de que nenhum homem ou mulher poderá alguma vez compreender como chegámos tão longe e em tão pouco tempo. Sejam eles o pai da Andreia que concluiu o seu Doutoramento na Harvard Medical School ou a mãe do Duarte que está a representar-nos nos Jogos Olímpicos.
Chegámos muito longe, mas é preciso querermos mais. Para continuarmos a desafiar-nos, para continuarmos a crescer, para continuarmos a ir mais longe do que antes imaginávamos ser possível. Porque apenas aceitando esse desafio (que hoje não existe) colocaremos as melhores das nossas habilidades enquanto comunidade na construção do futuro que ambicionamos. Não queremos um presente de desculpas falsas de quem nada tem para fazer e ficou preso ao passado. Queremos um presente de soluções e superações para chegarmos ao futuro.
É esse o desafio que enquanto partido e comunidade aceitamos viver. É por esse desafio que criaremos as nossas melhores equipas. Renovadas, melhoradas, com gente boa, com paixão pelas suas terras e pela sua comunidade. Uma equipa de pessoas excecionais, extremamente qualificadas e com grandioso valor humano. Uma equipa de gente inspiradora, como precisamos de ser, uns pelos outros; e todos por um só: pelo Cartaxo. A terra que nos move, que nos viu crescer e onde queremos dar aos nossos filhos ainda muito maiores alegrias e oportunidades que aquelas que pudemos viver.
Contamos contigo, contamos convosco, contamos com todos. E, juntos, vamos longe, muito mais longe que aquilo que outros dizem ser possível, nesta que queremos que seja a jornada mais desafiante e extraordinária em que a população do Cartaxo alguma vez esteve envolvida.