Por João Fróis
“The grass is greener on the other side of the hill “
Os ingleses têm nesta expressão antiga a projeção da esperança, de melhores dias e na certeza que há sempre uma saída, uma bonança que nos salve e devolva a alegria, esbatida pela adversidade.
A colina surge aqui não por acaso.
Nesta crise mundial de saúde pública, somos confrontados com todo o tipo de gráficos e entre eles as já famosas curvas analíticas da evolução do número de infetados ao longo das semanas. Umas mais agudas, como Itália e Espanha, outras mais suavizadas como Singapura e Coreia do Sul. Mas no essencial curvas que na perceção de uma criança poderiam ser colinas.
E são. Obstáculos enormes a superar e que infelizmente nem todos conseguem. Tombam todos os dias milhares nesta luta desigual perante um inimigo ainda pouco conhecido e insidioso, que se propaga sem ser detetado e nos deixa vulneráveis.
Já percebemos que se está a espalhar por todo o globo e que invariavelmente irá atingir um grande número de pessoas, com danos óbvios nos sistemas de saúde e na capacidade de resposta dos mesmos para responder aos afluxos de doentes.
O odioso acontece quando, como já sucede em Itália e na vizinha Espanha, perante a incapacidade dos meios técnicos e humanos para tanta solicitação, se tem de escolher entre quem vive e quem morre… aqui batemos no fundo enquanto sociedade protetora da vida e da saúde de todos. Claudicamos.
É precisamente isto que Portugal tem de evitar. A todo o custo. É essencial evitar que os nossos hospitais colapsem e tenham de deixar morrer uns para tentar salvar outros.
E perante franjas da população que insistem em passear na rua, há que endurecer as medidas. Só pode andar na rua quem tenha mesmo de lá estar. Sem exceções.
Porque por cada prevaricador, haverá um potencial internado nos cuidados intensivos a lutar pela vida. E se ainda há quem não entenda isto, então que se avance para a etapa seguinte, como Ovar já fez. Para o bem de todos.
Porque para quem está em casa e se sacrifica pelo bem dos mais vulneráveis, conclui que estes comportamentos idiotas vão contribuir para que a tal curva se prolongue no tempo e que mais dias sejam necessários de quarentena. Isto tem de acabar.
A ideia é evitar danos maiores e quando finalmente a nossa curva começar a descer pensar na etapa seguinte.
E essa etapa passará então pela imunização coletiva. Não como Boris Johnson propôs apressada e estupidamente, sem antes fazer contenção e proteção dos sintamos de saúde mas sim só após os sinais de decréscimo do numero de infetados serem consistentes.
Será então tempo de progressivamente ir permitindo que as pessoas que estão em casa vão voltando às suas atividades e vida dita normal. Porque quer queiramos quer não a maior parte da população irá ter contacto com o Covid19, a exemplo do que já sucedeu com outros vírus Corona e a gripe. A imunização coletiva é a melhor resposta para se vencer o vírus e a pandemia. Mas antes há que manter os sistemas de saúde em contenção de modo a terem capacidade de resposta para salvar vidas, sem tere que as excluir. É nesse tempo que ainda estamos e estaremos mais umas semanas.
Posteriormente virá o tempo de sermos expostos ao vírus quando este já não mostrar sinais de alastramento sem rédeas.
Grande parte de nós seremos assintomáticos. Nem daremos conta que tivémos contacto com o vírus. Outros terão alguns sintomas e apenas uma pequena parte terá problemas mais agudos. Ora é precisamente nesta fase que os mais vulneráveis terão de ser protegidos com medidas especiais de contenção e proteção, evitando mortes e tendo resposta para os tratar.
É este o outro lado da colina.
Ele está lá, assim como estão as montanhas e os rios, as praias e só campos. A natureza continua igual a si mesma e agora com o bónus de estar muito menos poluída e pressionada. Os sinais são evidentes e se havia dúvidas do impacto da atividade humana no planeta, acabaram. Somos o problema e há que mudar paradigmas de uma vez por todas.
Para que assim possamos não só acreditar que do outro lado da colina há erva mais verde e fresca e que efetivamente ela lá esteja, e não um deserto árido e seco, despojado de vida. A opção volta a ser nossa. Tal como a de ficar em casa.
Parar agora para poder sair depois. Em segurança e sem um numero absurdo de vítimas inocentes.