Que estranho Outono! Votámos no dia 4 de Outubro e hoje, dia 21, ainda não sabemos quem será 1º ministro nem que governo teremos.
Primeiro, foi preciso esperar pelos votos dos emigrantes, como se viessem de barco. Não se pode proceder de modo a que os votos sejam todos contados no mesmo dia? Porquê?
Depois, o mistério de Belém. O Presidente da República nem às comemorações do 5 de Outubro compareceu porque estava a “pensar, professor, pensar”. E tudo previu, todos os cenários, afirma. Sabe ele, mas nós não.
A coligação que governou nos últimos quatro anos tem menos votos que o PS, o PCP e o BE juntos. E agora? Habituados que estávamos a que esquerda se guerreasse sem dialogar, só se lê e se ouve estranheza e espanto! São capazes de se sentar a uma mesa de negociações e de tornar a maioria aritmética em maioria política, imaginem.
A direita quase que endoidece diante de tal realidade. Coisa que nunca se viu e, segundo eles, nunca se verá. E que vem aí outra reforma agrária, e que quem ganhou foi a coligação (realmente teve mais votos, mas perdeu a maioria absoluta e não consegue estabelecer acordos, donde, fica em minoria, ficando só). E que a esquerda não sabe governar. E que “aqui d’el-rei” que nos tiram o poder.
Ora foi para isso que se votou.
Depois de aumentarem a pobreza, de cortarem salários e pensões, depois de se ajoelharem diante da troika, de terem desmantelado o mundo do trabalho – nunca houve tantos trabalhadores precários, contratos individuais, muitos deles abaixo do salário mínimo e desde os anos 60 que não se assistia a um tal êxodo de portugueses, partindo em busca de emprego – depois de piorarem brutalmente o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública, depois da falência de Bancos, do aumento de impostos e de todas as aflições que nos trouxeram, que queriam?
Se o PS não conseguir estabelecer acordos à esquerda, pelo menos rompeu um tabu. Também a Grécia, com a sua tentativa de debater a austeridade na Europa, revelou quão débil e autoritária é a “democracia” europeia.
Por mim, celebro o diálogo à esquerda.
Oxalá cheguem a um acordo e, se não for desta vez, doutra será. É a democracia.
Mas quando se sai da tradição e do que já se conhece, surgem os medos e os papões. Para avançar é preciso ousar.
Sei que muitos leitores não concordarão comigo, mas pensem lá melhor. Os votos não valem todos o mesmo? Então se a Coligação não tem a maioria e se o PS, com o PCP e o BE, chegarem a um entendimento, temos medo de quê? Eu não sou masoquista, não quero ver o meu país e o povo a que pertenço triste, pobre e explorado.
“Para melhor está bem está bem, para pior já basta assim”. Viva a esperança.