A hora da Banca

Opinião de João Fróis

Este milénio entrou forte e logo com um 11 de Setembro que trouxe para a vida de todos nós o terrorismo e o medo. Abruptamente o mundo folgado tinha acabado e nada seria como antes.

Entretanto nos EUA o capitalismo continuava a singrar e a vertigem do lucro levou a uma crise do chamado sub-prime em que os bens imobiliários foram avaliados e segurados por montantes absurdos e meramente virtuais. Estava criado o monstro e daí ao colapso foi um ápice. Na queda da procura, a busca de realizar o capital mostrou a ganância e as fragilidades dos esquemas financeiros e a crise abateu-se com estrondo. Os efeitos dominó no mundo não foram imediatos.

Em Portugal vieram a sentir-se com o arrefecimento da economia global no início da década de 10 e os anos seguintes revelaram-se trágicos. Falências em catadupa, desemprego galopante, assistência da troika financeira internacional a um país com défice e dívida insuportáveis. Assistimos então à queda de vários grupos bancários, uns por jogadas arriscadas na bolsa, outros por má gestão e incompetência para lidar com os sinais vindos dos mercados exteriores.

Fomos então todos compelidos, via ministério das finanças, a salvar estes bancos, sendo injetados em várias operações aproximadamente 15 mil milhões de euros. A resposta era sempre a mesma, precisamos de um setor bancário forte e que possa ajudar a economia. O cidadão comum nunca percebeu esta urgência e a real importância de uma banca deficitária, de risco e sem fundos que a garantissem a não ser o estado, ou seja, todos nós contribuintes.

Com muitos sacrifícios as contas públicas foram reequilibradas e passámos da era da rigidez financeira de Passos Coelho à era das cativações de Centeno. A verdade é que na soma destas duas estratégias a folga orçamental foi sendo criada, ao mesmo tempo que a economia recuperava e o desemprego descia. Eis-nos agora numa crise sem precedentes.

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O mundo está a ser abalado por uma ameaça invisível mas bem real, que nos obriga a parar e recolher e a manter apenas as atividades de base, industriais e que não podem deixar de produzir, sob pena de colapso iminente da economia nacional.

Num país em que as empresas são em cerca de 97% micro e pequenas empresas, as dos setores mais diretamente implicados, comércio, restauração e hotelaria, estão na linha da frente da falência. De portas fechadas não há transações nem liquidez para sequer honrar as despesas correntes, muito menos os ordenados e impostos.

Está na hora do Estado dizer presente e da banca finalmente fazer o mesmo. Nunca como agora precisámos de uma governação que garanta a sobrevivência e estabilidade de pessoas e empresas e de uma banca que sustente as inúmeras carências e solicitações de milhares de pequenos negócios que sem injeção de capital e moratórias nos juros e amortizações, irão desaparecer. E com elas outros tantos postos de trabalho, com toda a instabilidade social que acarreta e a sobrecarga para a segurança social. Está na hora de os bancos se chegarem à frente e darem a mão a quem tanto precisa de apoio para simplesmente sobreviver.

Os números para já avançados de 3 mil milhões de euros para ajudar a economia são manifestamente poucos. Esperemos que sejam mais e possam responder à torrente de necessidades que dispara a cada semana de quarentena e estagnação económica.

Os profissionais de saúde estão a dar o seu melhor para salvar vidas e prevenir mais danos na população. Cabe à banca fazer a sua parte na economia. É hora de agir e prevenir o colapso social e a falência coletiva do tecido empresarial português.

As próximas semanas demonstrarão que país somos e que queremos ser. Ficar em casa é o desafio para milhares de nós. Abrir os cordões à bolsa é a missão dos bancos, deixando de olhar para o lucro imediato e mais para a sobrevivência da sua clientela. Haja coragem, bom senso e humanismo, porque sem pessoas o dinheiro de nada vale.

*Artigo publicado na edição de abril do Jornal de Cá.

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