A importância das artes no currículo

Opinião de Elvira Tristão

Estamos na reta final do ano letivo 2021/2022. Enquanto na educação pré-escolar, e no 1º ciclo, crianças e educadores concluem os seus projetos, porventura para partilhar experiências, no encerramento do ano, os alunos do ensino secundário preparam-se para os exames. Outros realizam provas de equivalência à frequência provas de aferição. Os professores dividem o seu tempo entre classificação de provas, serviços de exames, reuniões, relatórios e preparação do próximo ano letivo antes de ir de férias. Ao fim de dois anos, alunos e professores voltaram ao “novo normal. O regime presencial, com a possibilidade do encontro e da partilha, permitiu retomar alguns projetos.

No âmbito do Plano Nacional das Artes, o Projeto Cultural de Escola do Agrupamento Marcelino Mesquita foi acontecendo e retomaram-se as aprendizagens em contextos informais, como as aulas de expressões que aconteceram na cidade, na Biblioteca Municipal Marcelino Mesquita, no Centro Cultural do Cartaxo e por todos os lugares onde professores e alunos realizaram visitas de estudo para promover aprendizagens que não acontecem na sala de aula, apesar do potencial do digital.

O regime presencial aprofunda a relação pedagógica, mas também viabiliza aprendizagens que se fazem “de corpo inteiro” e que valorizam os afetos. Aprender tem de ser também um lugar onde se é feliz e que faz sentido para nós. Ora, as artes são uma parte substancial da nossa cultura e do nosso património, e, em boa hora, voltaram a ser valorizadas no currículo. Muita da valorização da educação pela arte é, de certo modo, invisível, sendo que o Plano Nacional das Artes visa dar visibilidade a esta dimensão educativa e fazer dela uma ferramenta pedagógica.

Ora, com a adesão do Agrupamento Marcelino Mesquita ao Plano Nacional das Artes foi possível, em 2021/2022, viabilizar um dos seus eixos através da colaboração de dois artistas residentes que enriqueceram o Projeto Cultural de Escola. Um artista visual e uma artista performativa, durante este ano letivo, contribuíram para o sucesso das aprendizagens dos alunos do agrupamento e para a valorização da dimensão das artes no seu projeto educativo.

Do seu trabalho destaco o projeto de levantamento fotográfico e curadoria expositiva do património artístico da Escola Secundária do Cartaxo. Quando as obras de requalificação começarem, será necessário salvaguardar o património que resulta de décadas de trabalhos dos alunos e que hoje fazem parte da identidade da escola. Falamos de telas, de murais, de objetos escultóricos e sobretudo de portas. Estas são um dos motivos para o nome do projeto – “De portas abertas” – e um fator de humanização das salas e corredores que têm vindo a degradar-se, sobretudo nas últimas duas décadas. Espera-se, no próximo ano letivo, haver condições para uma exposição virtual e a conclusão da curadoria de uma instalação permanente a integrar o projeto de requalificação da escola.

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Saliento também o projeto realizado nas turmas de 3º e 4º ano do primeiro ciclo, que articulou a leitura, as artes plásticas e a dança para desenvolver processos de criação performativa que, na sua conclusão, foram objeto de registo em vídeo. Todo o processo criativo levado a cabo pelos alunos demonstra a importância de aprender “de corpo inteiro”, dos afetos e, por fim, das boas lembranças da escola. Foi visível a satisfação dos alunos e dos professores que desejam a continuidade do projeto. Concluo citando Torga: “o que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura”.

*Artigo publicado na edição de julho do Jornal de Cá.

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