“Com o pouco que temos conseguem-se fazer pequenos milagres”
Fomos até ao Estádio Municipal acompanhar um treino da Escola de Atletismo do Cartaxo. A época desportiva passada correu bem e as espetativas para o próximo ano são altas, mas apesar dos bons resultados, a nível distrital e com alguns atletas a sobressair também a nível nacional, o clube não consegue evitar a debandada precoce dos atletas que forma, "vão sempre embora para clubes de Lisboa, principalmente". Atletas e treinadores queixam-se da falta de equipamentos e do material de treino bastante degradado, "em comparação com outros clubes do distrito, estamos muito atrás". O presidente da Câmara assegura que "o estádio não tem sido esquecido, já sofreu intervenções", e quanto à nova pista de atletismo? "Já estamos a dar os primeiros passos, saber quanto custa e como se resolve".
A Escola de Atletismo do Cartaxo está entre as melhores a nível nacional, a época desportiva passada “correu bem, tivemos vários atletas no topo nacional. Há matéria para trabalhar, há vontade”, garante Pedro Barbosa.
Mas o clube não consegue evitar a debandada precoce dos atletas que forma “nós nunca conseguimos ter uma equipa completa, porque os melhores atletas infantis, iniciados, juvenis, vão sempre embora para clubes de Lisboa, principalmente, porque não há condições económicas para os manter cá, porque muitas vezes vão receber um pequeno subsídio que ajuda para comprar as sapatilhas, para isto, para aquilo”, desabafa o treinador. Muitos destes atletas continuam a treinar na Escola, “continuam a treinar connosco, com os mesmos treinadores”, por isso, “não é uma questão de treino”, os atletas vão para outros clubes porque têm algum apoio económico”, conclui Pedro Barbosa.
Apesar dos bons resultados, a nível distrital e com alguns atletas a sobressair também a nível nacional, a Escola não tem patrocínios, já tentaram junto de algumas empresas, mas “a partir de certa altura nós desistimos de procurar apoio porque não há, dizem-nos, já demos a outro, é complicado”, admite Nelson Dantas.
“A Câmara não tem hipótese de dar apoio monetário, e não temos patrocinadores, portanto, é uma questão de, agora com esta nova direção que entrou agora, tentar realizar alguns eventos, tentar criar uma dinâmica que permita também melhor organização e potenciar essa parte económica, porque nós temos muitas despesas”, sublinha Pedro Barbosa, “nós temos várias atletas com mínimos para ir aos Campeonatos Nacionais, que vão sempre aos Campeonatos Nacionais. O clube tem sempre garantido a ida aos Campeonatos Nacionais, fomos a Guimarães, fomos a Braga, fomos a Viana de Castelo, fomos a Portimão, fomos a todos os Campeonatos Nacionais e vamos continuar a ir, apenas com o apoio das cotas que eles pagam, que é 15 euros por mês”, garante o treinador.
Atletas e treinadores queixam-se do material de treino, que está “bastante degradado” e da falta de equipamentos, “não temos, por exemplo, um colchão para fazer salto com vara, não temos um obstáculo da vala que é importante para treinar os 3.000 metros e os 1.500 e os 2.000 metros obstáculos, não temos quase barreiras, temos meia dúzia de barreiras degradadas, temos algumas limitações em termos de material”, lamenta Pedro Barbosa, “mas isso não me assusta porque já em tempos treinávamos à volta da Praça de Touros e tivemos uma equipa campeã nacional de juvenis femininos, portanto a vontade supera isso”.
“Temos quatro treinadores que não recebem nada, zero. Isso era impossível em qualquer outro clube. Da minha parte, vou continuar, enquanto eu tiver saúde e vontade, vou continuar. Enquanto estes jovens me estimularem, porque mostram ter gosto e ter capacidades para ir mais longe”, assegura Pedro Barbosa.
Nelson Dantas, treinador no clube há dois anos, refere que “em comparação com outros clubes do distrito, estamos muito atrás, muito atrás mesmo, no nível de condições, de material, estamos muito atrás, mas com o pouco que temos conseguem-se fazer pequenos milagres. Contamos com a força de vontade dos atletas, isso é o que conta, acima de tudo é o que conta”.
“O Estádio não tem sido esquecido”
O Estádio Municipal abrange, essencialmente, dois desportos, o futebol que tem centenas de atletas a treinar e o atletismo que tem dezenas. A manutenção de todo o equipamento implica ao município em termos de esforço financeiro anual cerca de 300 mil euros, só para a manutenção da relva do campo de futebol são necessários cinco mil euros por mês.
O presidente da Câmara Municipal assegura que nos últimos anos têm investido e têm melhorado as condições do Estádio. “Primeiro dizer-lhes que têm razão. Aquele equipamento está mega deteriorado. O Estádio Municipal naturalmente, como qualquer edifício que é muito frequentado, acaba por deteriora-se e nestes últimos 20 anos a pista não teve manutenção e agora está num estado tal que tem que ser uma nova”, começa por dizer João Heitor, ao Jornal de Cá, quando confrontado com as queixas dos treinadores. “O Estádio não tem sido esquecido, já sofreu intervenções, nomeadamente a substituição de toda a iluminação, um investimento a rondar os 70 mil euros, mais IVA, o arranjo das gaiolas, toda a limpeza e manutenção da pala”.
O presidente da Câmara, assegura que por agora é possível investir em algum material de treino, mas que quanto à pista de atletismo, “para já fizemos uma consulta ao mercado, uma pista nova custa acima de 300 mil euros, já estamos a dar os primeiros passos, saber quanto custa e como se resolve, mas também queremos fazer ali uma intervenção na própria pista, porque a pista foi feita de uma forma errada porque não se conseguem fazer lá as modalidades todas. Queremos fazê-lo, queremos corrigir as medidas da pista para permitir ter ali todas as provas e substituir o tartan da pista na totalidade, mas não sei se conseguimos fazer já no ano que vem, honestamente”.