Opinião de João Pedro Oliveira As eleições presidenciais de 2021 ficarão na história da democracia portuguesa pelo marcante período que atravessamos. Saliento a consciência cívica de todos os eleitores que, em plena pandemia, acolheram o repto lançado de defender o atual sistema democrático, que apesar de todos os defeitos, é indubitavelmente o que mais ferramentas dá à população nos campos da salvaguarda da liberdade, da justiça e do progresso, nos quase nove séculos de história do nosso retângulo à beira mar plantado.
Gostaria de publicamente dar também uma palavra de apresso aos milhares de portugueses que por todo o país fizeram parte das Assembleias de Voto, assegurando toda a operacionalização do processo, que infelizmente ficou marcado pelo mau planeamento do voto antecipado. Esperemos que nas eleições autárquicas deste ano as ineficiências que ficaram à vista de todos possam ser ultrapassadas.
Relativamente aos timings, fica a dúvida se o momento seria o o ideal e se o colete-de-forças jurídico-constitucional que o empunha deveria ter sido aliviado, fruto da excecionalidade dos tempos em que vivemos. Dúvidas que devem servir para agilizar uma constituição ainda fortemente marcada por um pendor político-ideológico e com ineficiências que facilmente poderiam ser ultrapassadas com maior empenho dos partidos moderados à esquerda e à direita, passado o atual momento de emergência nacional que (sobre)vivemos.
Feitas as contas Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito à primeira volta com um excelente resultado a nível nacional, e também local, demonstrativo do balanço que a maioria fez do seu mandato anterior. Da esquerda à direita foi-lhe reconhecida a sua capacidade de colocar o superior interesse do país à frente de partidos, de grupos de interesses ou devisões maquiavélicas da política, na qual os cargos públicos são meros instrumentos para alcançar determinados fins meramente pessoais ou sectários.
Não tenho dúvida que no contexto que vivemos é importante para o país ter a certeza que em Belém o eixo da roda mantem-se fiel e estável enquanto a roda se movimenta, ditada democraticamente pela vontade da população que importa respeitar. Este é para mim um princípio basilar nas funções do Presidente da República, o real e efetivo garante da vontade do povo português.
Da análise política importa ainda salientar que a votação em Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes e Tiago Mayan Gonçalves demonstra-nos que a esmagadora maioria do eleitorado português permanece no centro político moderado, mais à esquerda ou mais à direita. Acredito sinceramente que esta é a grande elação a tirar e que não se deve diabolizar ou dar razões de vitimização às visões mais radicais, à esquerda ou à direita, mais ou menos aceites na sociedade. Estes pólos servem de travão ao progresso social e humano da nossa sociedade, que deve andar de mãos dadas com o desenvolvimento económico, sem esquecer princípios de sustentabilidade ambiental.
*Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal de Cá.