Opinião de João Fróis
Não cabe aqui personalizar pois interessa sobre o mais o exemplo, ou a falta dele, e esse sim faz a diferença.
Nos últimos dias estalou polémica nos meandros da política quando um conhecido deputado assumiu de viva voz que o padrão dos Descobrimentos deveria ser destruído. Esta opinião já de si violenta para um dos símbolos maiores das velhas epopeias marítimas, tinha na sua génese um ataque ao regime que o erigiu. Sendo este deputado de um partido de esquerda não espanta que Salazar tenha sido o alvo desta ação política.
Vivemos tempos fraturantes em Portugal e os recentes resultados eleitorais do Chega, na pessoa do seu presidente, trouxeram a lume os velhos fantasmas do fascismo e um toque a rebate de uma certa esquerda igualmente extremista e pouco preocupada com a moderação que a democracia geralmente pressupõe.
Mas o pior é perceber o perfil da pessoa que arrogantemente lança uma bomba deste calibre mediático no já se si crispado panorama político nacional. Falamos de alguém que entra num já tristemente famoso filão carreirista de políticos profissionais, ou seja, que em boa verdade nunca tiveram outra atividade conhecida que não fosse a militância partidária e a consequente ascensão profissional a reboque.
Independentemente das cores partidárias, entendo que este perfil não interessa à nobre causa de defender os interesses públicos. Na verdade estes carreiristas mostram uma série de tiques egocêntricos onde a sua causa se adianta a todas as demais, gerando mais problemas que soluções por onde vão singrando e pouco ou nada acrescentando à boa gestão dos dinheiros públicos. Lamentavelmente assistimos a uma constante degradação da qualidade dos agentes políticos e a um afastamento da política das forças vivas da sociedade civil. Ora estas duas realidades em simultâneo geram o primado de ciclos de nepotismo e incompetência militantes e dos quais ninguém escapa. A realidade lusitana mostra que os telhados de vidro são imensos e que poucos ousam sequer mencioná-los, sob pena de gerarem um nefasto e de consequências imprevisíveis, efeito dominó, qual tsunami que arrastaria consigo uns e outros sem olhar a cores.
É neste momento de imensa tensão social e económica que alguns agentes políticos aproveitam para semear a polémica e com isso virem a colher dividendos, para si e para os que os ajudaram a singrar veloz e imparavelmente na alçada deste imenso estadão, pejado de interesses particulares e onde se percebe que não há limites para a arrogância e muito menos para a (in)decência que deveria nortear a democracia.
Continuo a entender que qualquer extremismo é contra esta mesma democracia e que só quem verdadeiramente a defende a poderia assumir em prol da nação. Cabe ao povo decidir com o poder do voto.
*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.