Rainha das Vindimas: respeitem Vítor de Sousa
"Através de uma decisão não justificada, sem consultar a população e à revelia do legado de Vítor de Sousa (que já não está cá para o defender), o executivo da Câmara Municipal decidiu acabar com o certame da Rainha das Vindimas, tal como Vítor de Sousa o havia desenhado. Em sua substituição apresenta este ano a eleição dos Embaixadores da Vinha e do Vinho, destruindo por completo as origens culturais do evento que a precedeu". A opinião de Ricardo Magalhães.
Um Cartaxo com jovens com paixão pelas suas terras. Conhecedores da sua história, tradição e costumes. Mas que não se limitam a conhecê-la, como também a promovem ativamente. Não só no Ribatejo, mas por todo o país: mostram aquilo que de melhor a nossa terra e as suas gentes têm para oferecer.
Pode parecer um sonho, mas não é. É aliás bastante real e é mérito do legado brilhante de Vítor de Sousa. E Vítor de Sousa conseguiu-o de uma maneira extremamente sagaz. Através da celebração da Rainha das Vindimas, que nasceu para simbolizar a rainha da Festa da Adiafa.
A Festa da Adiafa marcava o final de uma estação com uma importância histórica para o nosso concelho como talvez nenhuma outra: as Vindimas. Nesta festa celebrava-se o final da época das Vindimas com um espetáculo único de música, dança e teatro. Convém também lembrar, que ao contrário de em tantos outros aspetos da sociedade da altura, o papel fundamental das mulheres nas Vindimas era valorizado e reconhecido.
E foi Vítor de Sousa, como nenhum outro, que pretendeu homenagear estas mulheres e o seu papel histórico e cultural único para as Vindimas e para o nosso concelho. Fê-lo com a criação da Rainha das Vindimas, uma homenagem tão rica e sensacional que outros municípios “invejaram” e tentaram copiar. Mas não tinham o Vítor. O Vítor que era tão nosso e compreendia a eleição da Rainha das Vindimas como mais nenhum outro.
Como assim? Eu explico. Os outros municípios copiaram o que lhes parecia ser um concurso de beleza, uma mera eleição de uma bonita embaixadora que auxiliasse na comunicação e promoção da cultura vitivinícola. Embaixadora qualquer influencer o é, mas no Cartaxo não era nada assim. Graças a Vítor de Sousa, a Rainha das Vindimas era muito mais que isso.
As Rainhas das Vindimas do Cartaxo conheciam verdadeiramente e honravam as histórias das suas freguesias, as vidas por detrás dos rostos dos cartaxeiros que as elegeram. Sabiam como os nossos antepassados haviam materializado essa cultura e o seu saber nos costumes que deles herdámos. Seja através da música, da poesia, do teatro, ou até mesmo, da gastronomia e, claro está, do vinho.
Foi aliás um certame que teve as suas origens na Rádio Cartaxo e do qual anos mais tarde a Câmara Municipal herdou a organização, sob o compromisso de o preservar e respeitar de acordo com os valores tão especiais e marcantes que lhe foram instituídos pelo Vítor. Tudo isso era verdade até hoje.
Através de uma decisão não justificada, sem consultar a população e à revelia do legado de Vítor de Sousa (que já não está cá para o defender), o executivo da Câmara Municipal decidiu acabar com o certame da Rainha das Vindimas, tal como Vítor de Sousa o havia desenhado. Em sua substituição apresenta este ano a eleição dos Embaixadores da Vinha e do Vinho, destruindo por completo as origens culturais do evento que a precedeu.
Precisamente no sentido oposto dos municípios que nos copiaram e que aos poucos vêm tornando as suas versões da Rainha das Vindimas em celebrações muito mais próximas daquelas que Vítor de Sousa sonhou e construiu. Dececionante que a própria Câmara do Cartaxo seja a única a desrespeitar o legado do seu criador.
Quem conheceu o Vítor sabe que ele se iria opor convictamente e que tudo faria para preservar a identidade da RAINHA DAS VINDIMAS. Por isso, este aproveitamento do facto dele já não estar entre nós para defender este evento deixa-nos a todos revoltados. Este evento que ele sempre tanto acarinhou e ajudou a crescer. Este evento ao qual ele dedicou a sua vida para que fosse de todos nós.