Opinião de Afonso Morango
A espera finalmente terminou. Quatro anos passaram e os corações dos portugueses batem, uma vez mais, ao som das eleições autárquicas, edição 2021. Chegámos àquela altura do ano em que novas obras públicas surgem um pouco por todo o território português. No lugar das outrora estradas e passeios desgastados, encontramos agora parcimoniosas rotundas recheadas com as mais belas e exóticas espécies de flores. As vetustas praças dão o seu lugar a novos e modernos parques de estacionamento com espaço de sobra e inúmeros estabelecimentos de saúde e ensino são renovados como se uma visita imperial estivesse programada para um futuro próximo.
Concelhos e freguesias de norte a sul tornam-se em autênticos campos de batalha onde têm lugar as habituais e acesas discussões entre futuros líderes políticos e onde os mais recentes empreendimentos de certos partidos são escrutinados. As ruas iluminam-se de cartazes com caras bem conhecidas de tios, madrinhas, mães e pais das vilas e cidades e as redes sociais dançam ao som da democracia. Afinal de contas, as autárquicas são as eleições mais democráticas dos portugueses e, depois de um ano a ser fustigado pela pandemia, Portugal agradece todo o interesse político e democrático, em especial por parte dos mais jovens.
A verdade é que a Europa se tem debatido com uma crise democrática nos últimos anos. A confiança dos europeus nos seus sistemas de governação tem-se deteriorado e os portugueses são dos povos que menos confia nos seus governantes. A descrença aumentou um pouco por todo o Velho Continente e a comunicação política transformou-se em algo enredado e confuso. Num meio em que a corrupção se tem tornado progressivamente numa realidade, a abnegação dos jovens face à política é cada vez mais preocupante. Hoje em dia o voto é um bem mais precioso que nunca e depois de tanto tempo a viver sob as consequências da mais recente pandemia, os cidadãos portugueses parecem preparados para uma reaproximação às urnas. Com os fundos da União Europeia a caminho, os autarcas procuram atrair as atenções dos seus eleitores com as suas mais recentes investidas políticas e as promessas são muitas. Ainda que as opiniões divirjam, os portugueses querem ver o dinheiro proveniente de Bruxelas bem investido depois de um ano penoso para toda a economia portuguesa e nunca antes umas eleições tiveram lugar sob tamanha vistoria.
Vivemos tempos insólitos e difíceis e estas autárquicas parecem ter vindo na altura certa. Como Churchill afirmou, a democracia é a pior forma de governação, à exceção de todas as outras. Numa época em que o berço da democracia atravessa um claro défice político, é necessário olhar criticamente para o processo democrático e confiar no mesmo, mas, para isso, é preciso que estejamos bem informados. Setembro será um mês de reinícios e renovações em várias vertentes. Esperemos, pois, que os portugueses cumpram o seu papel e contribuam devidamente para o início desta nova etapa que se avizinha.
*Artigo publicado na edição de setembro do Jornal de Cá.