Opinião de João Fróis
Em tempos de estranheza e incredulidade, os comportamentos dos estados e seus governantes ainda nos consegue deixar boquiabertos.
Após meses de medo e fechamento compulsivo, os sinais de alarme soaram por todo o mundo, demonstrando que a economia estava a colapsar às mãos de um vírus que ninguém consegue parar.
Com a falta dos fluxos desta economia que se habituou a ser global, foram vários os setores que ameaçaram a rotura e muitas as pequenas e médias empresas que tiveram de fechar portas. Sem turistas, os setores da aviação, hotelaria e restauração viram-se num túnel sem qualquer luz e os governos tiveram de começar uma dança de influências entre si e de uma apertada gestão dos números estatísticos do controlo da pandemia entre portas. Começou assim a era das decisões unilaterais sobre quem pode ou não receber turistas por via direta nos chamados corredores aéreos.
Por cá, e após largas semanas de desnorte no controlo dos focos de infeção na grande Lisboa, foi surreal assistir à encenação política do espanto perante a decisão inglesa de fechar o dito corredor a Portugal. Caía assim, com estrondo, o bom entendimento histórico com a velha Albion, privando principalmente o Algarve de cerca de 30% dos seus habituais visitantes e das suas injeções de dinheiro na economia local e nacional.
A Bélgica e a Irlanda seguiram o mesmo caminho e outros tantos os imitaram.
E para os que logo alimentaram as teorias que outros países estavam a colher os lucros da nossa infelicidade, basta atentar que Espanha está já a sofrer igual senda de decisões incómodas às mãos dos focos que assolam novamente a Catalunha.
Assistir a estas atitudes quase mesquinhas ou justiceiras por governos de países soberanos sobre outros seus parceiros na União Europeia, só perde em estupefação para a patética posição do nosso governo a praticamente pedinchar clemência para com o nosso depauperado turismo. Como se num passe de mágica a pandemia tivesse desaparecido e só a economia interessasse, esquecendo que é precisamente pela primeira e pela falta de controlo na sua evolução que a segunda sofre a bom sofrer, atirando milhares de empregos para a sarjeta e outras tantas empresas e famílias para a agonia financeira.
As famosas danças das cadeiras, tão ligadas a centros de poder e seus ocupantes, cede em visibilidade e importância para as cadeiras nas cabines dos aviões que todos querem receber, cheias de turistas e carteiras recheadas.
A Covid19 tem vindo a pôr a nu as muitas fragilidades do tecido económico e as falhas organizacionais dos estados face às ameaças que uma pandemia com estes contornos colocou a todos, sem exceção.
Mais preocupante que a ameaça viral, são as inúmeras demonstrações de falta de liderança e sobretudo das melhores decisões que os governos mundiais têm vindo a demonstrar sucessivamente. Coragem, inteligência, bom senso e humanismo a toda a prova são precisos em doses massivas. Antes mesmo de qualquer vacina. Haja esperança.
*Artigo publicado na edição de agosto do Jornal de Cá.