A abertura de portas do cemitério de Vale da Pinta na época da Páscoa motivou alguns leitores do Jornal de Cá a contactarem-nos, no sábado, para tentarem saber porque razão todos os outros cemitérios do concelho se encontravam encerrados.
Durante o dia de sábado, o Jornal de Cá foi tentar obter explicações do presidente da União de Freguesias Cartaxo e Vale da Pinta sobre esta situação.
Délio Pereira explicou ao Jornal de Cá que, tendo a aldeia de Vale da Pinta apenas cerca de 600 habitantes e como “estamos no terreno todos os dias, sabemos que as pessoas estão a cumprir bem as regras de distanciamento social nos espaços públicos e sabemos que as pessoas estão sensibilizadas para esta realidade, por isso, achámos que não seria necessário o encerramento do cemitério”.
Entretanto, esta terça-feira, os restantes presidentes de junta fizeram chegar ao Jornal de Cá um comunicado conjunto, desagradados com toda esta situação.
Os presidentes das juntas de freguesia de Valada, Vale da Pedra, Pontével, Vila Chã de Ourique e da União de Freguesias Ereira e Lapa não gostaram que o cemitério de Vale da Pinta, cuja gestão pertence à Junta de Freguesia da União de Freguesias Cartaxo e Vale da Pinta, permanecesse aberto durante a época da Páscoa, quando todos os outros se encontravam encerrados, como forma de prevenção e combate à COVID-19, na sequência do reforço das medidas de contenção decretadas no âmbito do estado de emergência.
Segundo todos estes presidentes de junta, existia um consenso para que os cemitérios se encontrassem encerrados desde o dia 22 de março.
Ao Jornal de Cá, Délio Pereira disse desconhecer a existência de qualquer entendimento para o encerramento dos cemitérios no concelho.
“Se os concelhos da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) concordam em fechar e também há o decreto-lei, temos de respeitar. Se não respeitarmos, como é que as coisas vão ser no futuro?”, começa por questionar Jorge Pisca, presidente da Junta de Pontével, ao mesmo tempo que explica ter recebido, no dia 20 de março, uma mensagem escrita do presidente da Câmara Municipal a informá-lo de que existia consenso para manter os cemitérios encerrados, e “o único a levantar maiores questões tinha sido eu. Se havia consenso, eu também aderia. Até porque queremos um bom concelho”.
Não obstante, Jorge Pisca garante não ter tido reclamações por o cemitério estar encerrado, até porque “houve a preocupação de falar com as pessoas que sabemos que vão lá todos os dias”.
Quanto à decisão da Junta do Cartaxo e Vale da Pinta, “se o meu colega quer ter o cemitério aberto, é um problema dele”.
Vasco Casimiro, presidente da Junta de Vila Chã de Ourique, diz que “não há polémica nenhuma. Havia um acordo, que nos foi transmitido pelo nosso presidente de Câmara, através de mensagem escrita, a acordar, entre os presidentes de junta e a Câmara, em fechar os cemitérios a partir do dia 22 e que, a partir dessa altura, só se abria para funerais”. No entanto, apesar de querer afastar a polémica, sempre vai adiantando que “nós é que vimos que a União de Freguesias Cartaxo e Vale da Pinta não fazia parte desse acordo, segundo diz o presidente [da União de Freguesias Cartaxo e Vale da Pinta] Délio Pereira”.
O autarca adianta, também, que os presidentes de junta foram ouvidos quanto à decisão de encerrar os cemitérios ainda antes da tomada de decisão, mas questiona “quem sou eu para julgar qualquer ação ou tomada de decisão da União de Freguesias? Mas concordámos todos em fechar e estranhámos o facto daquele cemitério nunca ter encerrado”.
O cemitério de Valada foi o primeiro a ficar encerrado, revela a presidente, Margarida Abade, “no dia 19 [de março] comuniquei que já tinha encerrado. No dia 20, o presidente enviou-nos uma mensagem a saber qual era a nossa opinião e, passadas uma horas, enviou nova mensagem, a informar que o encerramento era consensual”.
Apesar de tudo, Margarida Abade realça que nunca houve uma conversa entre presidentes de junta sobre esta situação, e que, por isso, “para mim, foi novidade o que aconteceu em Vale da Pinta. Não fazia a menor ideia. Havendo um a discordar não há consenso e por aquilo que eu percebi, ele [Délio Pereira] transmitiu logo essa ideia ao presidente”.
Na União de Freguesias Ereira e Lapa os cemitérios também estão encerrados. “Nós aceitámos, em conjunto – quer dizer, acho que agora já não é conjunto nenhum – o fecho dos cemitérios. Antes da Semana Santa, e tendo em consideração, em especial, a freguesia da Lapa, que me tinham pressionado para saber se não havia uma abertura na Semana Santa, num briefing da Proteção Civil, perguntei ao presidente da Câmara se havia alguma medida extraordinária. E ele garantiu-me que era para manter”, explica João Nunes, presidente da União de Freguesias.
Realçando que “eu não tenho nada a ver com o cemitério de Vale da Pinta”, João Nunes lembra que “nós temos de justificar porque é que ele está aberto e os outros fechados”, até porque “também se desrespeitou a lei e a Câmara, julgo eu”.
Em Vale da Pedra, José Belo, presidente da Junta, salienta que “aquilo que o meu camarada e amigo Délio fez foi uma decisão dele, e eu tenho de respeitar, enquanto colega. Foi o único que não fechou”, foi uma decisão que, “de alguma forma, fugiu àquilo a que todos nós estávamos ‘amarrados’. Para nós foi um bocado incómodo”.
“Houve aqui qualquer coisa que falhou”, resume José Belo.
A situação causou algum desgaste no briefing de Proteção Civil do passado domingo. Segundo Margarida Abade, a partir de agora, “aquilo que competir às freguesias, cada um que faça como achar melhor para a sua freguesia”.
Em comunicado conjunto enviado ao Jornal de Cá, as cinco juntas recordam as medidas tomadas ao abrigo de contingência: encerramento dos cemitérios ao público, excepto para a realização de funerais e, perante a necessidade de realização de serviços fúnebres, “deve ser contactada a Junta de Freguesia, para abertura do cemitério, limitando-se a cerimónia à presença das entidades religiosas, familiares e agentes funerários (condicionados a um máximo de dez pessoas)”.
O comunicado acrescenta que “estas medidas serão objeto de monitorização e avaliação permanentes enquanto decorrer o estado de emergência, sendo alteradas em função da adequação que se considerar necessária ao reforço da prevenção, controlo e eliminação da COVID-19”.
“Agora, de forma clara e inequívoca, nós juntámo-nos, aqueles que estão a respeitar aquilo que inicialmente todos tínhamos decidido”, explica José Belo, para garantir que assim será até ao final do estado de emergência.
No caso do cemitério do Cartaxo, que é gerido pela Câmara Municipal, o presidente da autarquia, Pedro Ribeiro, optou pelo seu encerramento.
Ao Jornal de Cá, o presidente da Câmara disse que na sua opinião pessoal entende que neste momento “tudo devemos fazer para que as pessoas fiquem em casa”, e no que diz respeito à gestão dos cemitérios “respeito a autonomia de cada um dos presidentes das Juntas de Freguesia”.