Cuidar

Opinião de Vera Alves, Psicoterapeuta e Terapeuta de casal

Quando penso na capacidade que as pessoas têm para cuidar e serem cuidadas na relação, vem-me a imagem do gato de barriga para cima. Ao contrario do cão, não é comum os gatos colocarem-se nesta posição, a de receber.

Faz pensar, não é! Porque será que só com algumas pessoas os gatos se põem de barriga para cima? Se permitem ser cuidados e mimados? Porque precisam de se sentir seguros e, acima de tudo, confiar que essas pessoas não lhe vão fazer mal.

Curiosamente, acho que o mesmo acontece com algumas pessoas. Pedem que cuidem, que as mimem, exigem-no, e zangam-se quando não o são. Será que se põem a jeito? Será que se põem de barriga para cima?

Por vezes a forma como se pede não é coerente com a postura, como os gatos fazem com algumas pessoas. Fazem ronrom, vão para perto da pessoa, e quando esta decide fazer mimos fogem, ou até deixam com desconfiança, mas estão prontos a fugir.

Faz-me lembrar um casal que funcionava muito bem na gestão dos aspetos práticos da casa e dos filhos, mas entre eles não se cuidavam. Os papeis estavam atribuídos, bem definidos, cada um sabia muito bem o que tinha que fazer, e desempenhava esse papel sem a ajuda do outro. Quando era necessário ajuda para além disso, não o faziam, porque a tarefa não era da sua responsabilidade: era sempre ele quem conduzia. Numa ida para a terapia, ele estava muito cansado e com sono, e pediu à sua mulher que conduzisse por ele. Mas como isso não fazia parte das suas tarefas ela não o fez e entraram em conflito.

Ele pôs-se a jeito de ser cuidado, mas na relação não havia amizade e confiança suficiente para cuidarem um do outro.

A importância da amizade, da partilha, da confiança, da segurança e conforto que o outro nos transmite, faz com que saiba tão bem colocarmo-nos de barriga para cima e ronronar. Parece tão fácil, não é? 

 

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