O nascer do sol dava a ordem para começar o trabalho. O capataz confirmava que assim era. Depois disso era trabalhar até dar. Até o sol desaparecer no horizonte. A benção dos dias curtos no Inverno era compensada com os dias de Verão que pareciam não terminar. Era preciso trabalhar quando era tempo disso. Enquanto o capataz dizia que assim era.
Todos os dias eram de trabalho. Com chuva ou sol.
Era assim que tinha de ser. Plantar e cuidar para mais tarde colher. Para ter comida na mesa que alimentasse as bocas que insistiam em aumentar. Era preciso olhar pelas vinhas ou aparecia o míldio que se pegava às folhas. Ou o mal branco que condenava a colheita. E lá ia o sustento.
A água sufaltada já tinha sido preparada. Os homens e mulheres faziam o trabalho. Mangas arregaçadas, lenços à cabeça e a pele a queimar com o sol e o sulfato. Uma para cada homem. O auxílio.
Lá iam eles de pulverizador às costas. Uma saca a proteger os ombros e o pescoço. Nada mais.
Lá estavam elas de caneco pronto.
Os homens faziam o caminho no meio daquela vinha a granel. Cepas dispersas e terreno incerto. Corpo dorido do peso que acartavam.
– Água! Água!
Gritavam a ordem. As mulheres, que esperavam lá atrás, respondiam. Caneco cheio de água sufaltada e lá iam elas. O mais depressa possível. Deitavam a água sem cerimónia no pulverizador e a saca ficava ensopada com o sulfato que se escapava.
Lá iam eles outra vez.
Assim se protegia o que lhes ia dar pão para a mesa. Homens a percorrer o terreno. Mulheres a dar água.
O tempo da apanha ia chegar. Dos cachos gulosos escondidos no meio das folhas. Os dias quentes de Setembro com as mulheres a percorrem a mesma vinha. Curvadas. O tempo das mãos aleijadas e dos pés doridos. Do calor que queimava. Dos cestos ao ombro.
O corpo aguenta muito, mas dá sinal de si. Fica moído, calejado.
Mas primeiro era preciso aguentar o sulfato. Era preciso curar os campos. Tratar primeiro para colher depois. E lá iam elas de caneco.
Primeiro, era tempo de dar água à cura.