Lá vai água (e muita areia) para os olhos dos cartaxeiros

Opinião de João Pedro Oliveira

Parece ser hoje evidente que os moldes da concessão das águas e o impasse que se vive há sete anos têm prejudicado financeiramente a Câmara e socialmente a sua população. Atravessando diferentes períodos o PS tem procurado fazer uma gestão de expectativas da opinião pública nesta matéria. As consequências deste “desentendimento” revelam, contudo, um inesperado calcanhar de Aquiles que cada vez mais tem vindo a lume. A incapacidade do Município em fiscalizar corretamente o serviço prestado pela concessionária está, finalmente, a testar a paciência dos consumidores que cada vez mais se sentem prejudicados na relação preço/qualidade sobre o serviço prestado.

Começa a existir uma consciência comum de que o hipotético braço de ferro entre este executivo e a Cartágua não é mais do que uma relação de conveniência ou a ponta de um iceberg que reflete a inabilidade negocial de quem nos representa. Esta inabilidade anda de mão dada com a tal gestão focada nas expectativas da opinião pública.

Do outro lado, a Cartágua encontra-se numa confortável situação. Face às diferentes alterações que foi conseguindo lograr ao longo da concessão, com a conivência da Câmara e dos seus eleitos, tem neste momento um negócio com moldes bastante favoráveis, não lhe cabendo então a necessidade de procurar ser um agente ativo na alteração do paradigma.

O recente ponto de viragem tem por premissa a agitação social face à qualidade do serviço e à entrevista dada pelo presidente a este jornal. Na lógica da gestão de dano (ou por casualidade, cada um acredita no que quer) surgiu um comunicado assinado pelo município a dar boa conta da vontade de Pedro Ribeiro em estudar o resgate da concessão. Será este o ponto de inversão da trajetória atual ou uma mão cheia de nada fruto de mais um artifício pré-eleitoral?

Para tal acredito ser importante fazer as seguintes questões: O município muniu-se ao longo dos últimos sete anos de factos e argumentos capazes de encostar a concessionária à parede e aí negociar um acordo benéfico para a população do Cartaxo (o terceiro aditamento foi um desastre)? Apresentou publicamente alguma relação do custo/proveito da atual situação de arrastamento do diferendo que tem com a Cartágua? Deu conhecimento de algum estudo de mercado capaz de perceber se as obras que a Cartágua adjudicou diretamente a empresas do grupo, nas barbas deste executivo e sem que o mesmo levantasse objeção, foram praticados a preços competitivos de mercado? Tem em sua posse uma análise técnica e jurídica fundamentada para resolver a concessão face ao conjunto de vicissitudes referentes às premissas do concurso inicial e respetivos aditamentos? Por último tem apresentando um registo crítico à qualidade do serviço prestado que justifique a resolução do contrato, seja através de parecer dos quadros técnicos do município ou de posições tomadas enquanto entidade representante da população em órgãos de comunicação social?

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A última e mais pertinente questão: Se ainda não tem noção do custo, vantagens ou desvantagens do resgate da concessão, mas pretende-o fazer, será que a janela de menos de um ano até às eleições é suficiente para fazer tudo o que não conseguiu fazer em sete anos?

Cai quem quer.

*Artigo publicado na edição de novembro do Jornal de Cá.

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